Valores enfraquecidos

          Leia o jornal, veja a onda midiática tornando habitual a frivoleza diante do impactante pavor: Mata-se ser humano como menino perverso com baladeira, lagartixa ou sapo, dando-lhe para engolir prego incandescente. A violência invade casas, escolas, hospitais e igrejas,  acima dos constantes desastres no trânsito das ruas ou no ir e vir entre as cidades: Realidade que fere a sensibilidade e escochina o bem-estar.
          Esses fatos talvez enfraquecem o entusiasmo das famílias, das escolas e das igrejas de ensinarem que "a vida é um precioso dom de Deus, só Ele que nos doou a vida pode tirá-la"... Lia-se isto em todos os catecismos, em qualquer livro didático sobre cujo conteúdo, hoje, mais se discute se os educadores devem inserir que, fora os animais, a humanidade tem três gêneros. Tal discussão pode existir sem substituir a da participação dos homens e das mulheres na procriação da vida: Se Deus criou, mulheres e homens cocriam tão inestimável natureza sem o direito de matá-la: Argumento maior contra a pena de morte. Ninguém, apenas vestindo paletó do poder ou toga da justiça, pode usurpar essa faculdade divina.
          Não afetaria meu "livre arbítrio", se alguém, ao tirar a vida de outrem, de pronto, ato contínuo, perdesse a sua; tal imaginária penalização frearia a criminalidade, excetuando apenas os suicidas. Somente a Deus cabe tal fatal aplicação da reciprocidade do crime e da pena: "Olho por olho (...)". Contra essa imaginação, suponho que Ele, ao ser perfeito, é misericordioso e simula ignorar os irascíveis tachando os misericordiosos de frouxos e não compreendendo a coragem e o dom da misericórdia que, espontâneo, cai dos céus como o maná no deserto.