UMA ESTÁTUA VIVA
 
 



A tarde estava linda, e um pouquinho fria. Do jeito que eu gosto. Eu e meu marido acabáramos de chegar à Bauernfest, a festa que celebra a colonização alemã em Petrópolis. Enquanto caminhávamos, observando a alegria das pessoas, as barracas de quitutes e as cores, começamos a nos lembrar de pessoas que adoravam esta festa, e que já não estão mais aqui para celebrá-la. No meio de tanta alegria, nós estávamos um pouco melancólicos.




E de repente, eu encontrei um anjo branco em um pedestal. As pessoas o rodeavam, curiosas. De longe, pensei que fosse uma estátua, e pensei: por que uma simples estátua chamaria a atenção de tantas pessoas? Nos aproximamos, e ele se moveu: era uma estátua viva! Coloquei algumas moedas na caixinha que estava aos pés do anjo, e li a inscrição: “Anjo Gabriel.” Aproximei-me mais, e mostrei o celular, pedindo para tirar uma foto, e ele concordou com a cabeça. O que mais me impressionou, foi a serenidade com a qual ele, de seu pedestal, olhava para nós. O artista tinha encarnado totalmente o seu personagem, e me perguntei até que ponto ele era apenas um personagem, ou realmente um mensageiro dos céus.




Tirei a foto que eu queria, e ele me entregou um papelzinho dobrado, que tirou do seu bolso. Li: “Os momentos da vida em que mais crescemos, são quando ficamos de joelhos.”  Pensei nas tantas coisas pelas quais tínhamos passado, lembrando-me de que todos, alguma vez na vida – ou várias vezes – estaremos de joelhos, diante de uma dor, uma perda, uma grande dúvida ou um medo paralisante, sem saber o que fazer. Estaremos de joelhos para que não nos esqueçamos de que, ajoelhados, todos ficamos exatamente da mesma altura.



Agradeci, e continuamos a nossa caminhada. De repente, a festa pareceu ficar mais colorida e bonita. Começamos a reparar no grande número de crianças que havia por ali, cada qual mais linda que a outra. E eu me lembrei de quando eu era como elas, e minha mãe e meu pai nos levavam a festas como aquela. Lembrei-me da música tocando alto, das cores, dos balões multicoloridos, e de como muitas vezes eu acordava na manhã seguinte em minha cama, sem saber como tinha ido parar lá.




Olhei de novo para todas aquelas crianças, deixando que a alegria delas pudesse chegar até mim, e lamentando pelo dia em que todas elas – todas – teriam o seu momento de estar de joelhos. Desejei que tais momentos não durassem  muito, e que quando elas estivessem passando por eles, pudessem se lembrar de momentos como aquele da festa, em que corriam despreocupadamente por um belo jardim colorido e podiam conversar com um anjo.

Quando passamos novamente pelo local onde deveria estar o anjo, encontramos um homem que despia suas asas, guardando suas vestes em uma bolsa. Com o rosto ainda pintado de branco, ele se despediu das poucas pessoas que ainda o observavam e misturou-se à multidão, como um anjo que caiu do céu.


Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 30/06/2016
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