O GOLPE DOS VELHINHOS
Didi, Juninho, Lindinho e Nariz eram companheiros de longa data. Aposentados, viviam distraindo o tempo nas mesas de jogos da praça. Truco, dominó, dama eram s lida diária. Nenhuma aposta. O que valia mesmo era economizar os trocados das minguadas pensões. Quanto mais permanecessem jogando, menos tempo para usufruir de vícios. Despesas inúteis já bastavam as da caderneta da farmácia com os remédios de uso contínuo.
Entre uma jogada e outra seguiam a ladainha de comentários rotineiros sobre as monótonas notícias dos telejornais de ontem e as manchetes da banca.
Meu time ganhou, o político roubou.
Frases típicas do dia a dia: “Viu só...”, “Que absurdo essa roubalheira...”
Sua vez, Didi... resmungou Nariz.
To pensando!
E precisa pensar para jogar truco?
Calma pessoal! ... ponderou Lindinho. O Didi anda lento. É da idade. Vamos ficar assim.
A gente poderia tirar o pé da lama, abriu um sorriso o Didi.
Vixe! A coisa é séria... Concordaram os parceiros de mesa.
Não tiro mais empréstimo consignado, afirmou Lindinho.
Joga logo... protestou Juninho.
Olha aqui, pessoal Poderíamos estar em Las Vegas tomando Cherry, ao invés desta praça, protegendo-nos das pombas.
Tomou seu remédio hoje, indagou Lindinho.
Tomei, tomei... Tive uma ideia para ganharmos uma grana.
Sua vez, Juninho...
Os olhares arregalaram-se ante a firmeza da fala.
Nariz arriscou: ”Como?”
Vocês não prestam atenção nos noticiários? Viram como é fácil desviar milhares de dólares sem que ninguém perceba? É só nos organizarmos.
Ma Che! Baixou o espírito de antepassados no Juninho. Vamos é acabar presos. Não viu o “Mensalão”?
Ta quase todo mundo solto, retrucou Didi. E de mais a mais, somos idosos, podemos pedir redução de pena ou então prisão domiciliar por motivo de saúde.
Sua vez, Nariz...
Mas, e nossas partidas de truco? Entristeceu-se Lindinho.
Jogamos na cadeia. E é só um tempinho. Pense nas vantagens que teremos. Comida boa, roupa nova. Podemos ter até enterro de luxo, com direito a mausoléu. Prometeremos devolver parte dos ganhos, como prova de boa vontade.
Sei, não...
Nariz arriscou: “Dá para incluir minha sogra na delação premiada? Jurar que a idéia foi dela?” Juninho concordou, gargalhando: “Ela merece. Era pior que tornozeleira eletrônica para pegar no seu pé e descobrir onde você estava”.
O Didi pode estar certo, afirmaram sorrisos cúmplices.
Sua vez, Juninho...
Por que não pensamos nisso antes?
Sua vez, Nariz...
Não custa arriscar...
Sua vez, Didi...
Pior que estamos, não ficamos...
Sua vez, Lindinho...
Peraí... To no Whats apps vendo se meu cunhado quer ser laranja...
Desliga esse celular, assustou-se Juninho...
Pode estar grampeado, alertou Didi...
Ele disse que topa... Só que ele quer cinco por cento...
Alguém sugere qual tipo de golpe podemos dar?
Vender fraldas descartáveis para fundos de pensão?
Genial, Didi. Verdadeiramente acima de qualquer suspeita.
Sua vez...