Relatos de um viciado

Oi.

Eu sou "M".

Estou há três semanas, 20 dias e infinitas horas sem usar.

Não é fácil. Não tem sido fácil.

Controlar a ansiedade. Controlar a curiosidade. Controlar a vontade.

Sim. Até abstinência eu tive...

Afinal de contas é muito tempo nesse louco vício.

Engraçado isso, mas parece que hoje eu sou outra pessoa!

Sabe, tenho visto o céu, caminho sem tropeços, com atenção. Estou enxergando o mundo de forma diferente.

Esses dias eu fui jantar com uns amigos e consegui olhar olho no olho. De cada um.

E conversei. Muito. Por um bom tempo. (Embora nem todos parecessem estar dispostos a um papo.)

Até notei que uma amiga havia cortado o cabelo, elogiei. Um outro estava diferente, parecia mais magro... Comentei também.

E pasmem. Entrei e saí de lá sem que ninguém soubesse onde estive.

Outro dia visitei meu melhor amigo e pedi água. Mais nada! Há quanto tempo eu não peço isso logo que chego à casa de alguém?!

A verdade é que tomei coragem e retomei velhos hábitos.

Eu consegui achar a caderneta de telefones que havia sumido faz anos.

E sei de cor o número do fixo de casa.

Eu durmo cedo e com tranquilidade. Acordo com um despertador...

Tenho mais tempo pra mim. Parece que ganhei mais tempo.

Dia desses eu até li um livro e consegui interagir com o povo lá de casa... Vejam só!

É qualidade de vida e emoções diferentes que, sinceramente, eu nem me recordo da última vez que vivi isso.

Aquelas poses, os flashes e as caras e bocas ficaram para trás.

Quanta coisa mudou!

E eu ainda estou bem. Juro. (Apesar da dependência...)

Às vezes a vontade vem. Mas ela passa.

Não tenho me entristecido. Me descobri bem adaptado à atual situação.

É complicado ser e estar diferente de todo mundo!

Mas olha... É uma baita sensação de liberdade... Vou te dizer, eu sinto que eu me libertei, viu?

Acho que todos deveriam passar por uma experiência semelhante. Eu recomendo!

A gente reflete muito, revê prioridades e aprende a dar valor à vida, de verdade.

Estranho é ver a cara feia de um quando digo "não tá comigo" ou o olhar torto do outro quando me percebem sem o uso.

Parecem querer me isolar do mundo.

Quer saber? Não ligo.

Vou seguindo sem... Por quanto tempo? Não sei!

Estou só esperando ligarem lá em casa da assistência técnica, dizendo quando eu poderei pegar de volta o meu celular!!!

*Baseado, guardadas as proporções, em uma experiência muito particular após ter meu smartphone inutilizado.

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