TECNOLOGIA DE PONTA
Crônica de:
Flávio Cavalcante
Crônica de:
Flávio Cavalcante
Os tempos modernos chegaram para facilitar a vida de muita gente e com ele trouxe também um mar de problemas de difícil resolução. Tudo que a tecnologia fez em prol de facilitar trouxe uma epidemia chamada zona de conforto.
Hoje em dia tudo é praticidade até pra amenizar o corre-corre do dia a dia. Muitos estudiosos delatam que se vivia bem em tempos de outrora mesmo com toda dificuldade que na época existia. A dona de casa sem opção tinha que cozinhar de manhã, de tarde e de noite e ainda ficava na incumbência de estar pronta para o marido na hora que ele quisesse. Não existia essa praticidade de comidas congeladas já prontas para o consumo da era moderna.
Lavar roupa tinha que ser na mão também e praticamente todos os dias, função esta, também da senhora dona de casa. Houve uma época que nem fogão à gás nem existia e enquanto o marido saía para trabalhar a mulher pegava um machado para cortar lenha e pôr no fogão à lenha feito rusticamente de barro batido ou de tijolo de barro maciço. A luz era de candeeiro e não dispunha de energia elétrica. Não tinha farmácia ou médico e se curavam as doenças com as plantas medicinais ou visitas de rezadeiras comuns em várias regiões. Os partos das gestantes eram todos em casa de maneira natural. Os alimentos não tinham agrotóxicos e se podia comer qualquer fruta do pomar sem se preocupar com intoxicação. Até o fumo que hoje causa câncer era tido na época como medicinal e muitos, não só faziam o próprio cigarro na palha como também costumava mascar e não se ouvia falar de que alguém havia morrido pelos males do cigarro. A sabedoria dos mais velhos era respeitada como lei.
Todos tinham uma fé arrebatadora e morriam de medo das histórias de mal assombro contadas pelos anosos do lugar. De saci Pererê à mula sem cabeça o temor era na mesma proporção. Não se falava em assaltos e que alguém morreu de bala perdida. As mortes acidentais era por afogamento ou causas bem naturais. O bom dia diurno era de praxe. As crianças pediam a bênção aos mais velhos, as professoras das singelas escolas eram chamadas de tia e o recado sobre alguma travessura feita na escola por qualquer aluno era escrito pela própria professora e entregue nas mãos do peralta dando a responsabilidade a ele de passar para os pais. Nunca se ouvia falar de que um professor (a) foi agredido e ameaçado por aluno dentro da escola. Caso acontecesse as leis dentro de casa eram severas demais pelos pais e a correção era certa e dura.
Na diversão as crianças ativavam sua criatividade para construir seus próprios brinquedos e olha que os meninos com simples latas de óleo transformavam em grandes obras de artes além de alguns tinham tanta praticidade que apesar de ser de brinquedo não deixava a desejar a nenhum engenheiro. As gerigonças tinham amortecedores e outras coisas interessantes. Todas ideias saídas das cabecinhas pensantes que na forma simples, a tecnologia era de ponta. As festas eram feitas sempre a noite nos finais de semana. E o som era de uma sanfona, um triângulo e uma zabumba. Os carros dos participantes eram as bicicletas Caloi ou Monark. E todas chegavam as festa enfeitadas com fitas, com buzinas e outros objetos e adereços que para a época era ultra moderno.
Festa de casamento na região eram convidados desde o padre à toda vizinhança. A fartura de comida e bebida era incomensurável e o mais interessante não existia o tal de estresse e as pessoas viviam até cem anos com gostinho de quero mais.
No hoje com toda a tecnologia de ponta o homem não consegue se desvencilhar da modernidade e vive aprisionado a ela. Se faltar uma simples luz, não se come, não bebe água e não dorme. O homem depende da Luz. A televisão é a primeira a ser ligada em casa e todos ficam sentados cada um com seu celular batendo papo com amigos que na maioria das vezes ninguém se conhece. Não existe mais diálogos dentro do lar. A independência de uma juventude sem cabeça é o reflexo dessa prisão provocada por esta que se diz tecnologia de ponta e veio para facilitar a vida de todos. Será mesmo?
Por causa dela temos um mundo à parte num tsunami de violência, onde o homem desconhece o seu semelhante em prol da individualidade e do egoísmo. A falta de educação e respeito e a primeira lição de casa e as família vivem no mesmo teto sem saber quem é quem.
A bola de neve dessa tecnologia de ponta cresceu tanto que o que nos resta no hoje é rogar a Deus para que esse grande avanço da não desabe na cabeça daquele que não consegue acreditar que tudo aquilo que veio para uma beneficência do homem acabou de virar uma bomba relógio que à qualquer instante vai acabar explodindo nas próprias mãos e rasgando uma página que em outrora foi seguida como exemplo na intensão de que no hoje fatalmente o antigamente não estaria só na memória de apenas os saudosistas que tiveram a oportunidade de viver de fato e intensamente sem lamentar escandalosamente o que está acontecendo bem diante dos seus olhos.
ÉRAMOS FELIZES E NÃO PERCEBÍAMOS O QUANTO
Flávio Cavalcante