Pormerones / Epílogo

Voltando para o pensionato, encontrei Ana que vinha pelo caminho.

- Olha você aí!

- E pelo que vejo, foi muito bom o passeio! 

 - Matou a saudade? Concluiu de sorriso a mostrar os dentes.

- São tantas as lembranças boas, mas esta, não é a melhor parte.

- Parece que temos novidades!!

- É só uma entrevista para segunda-feira!

- Que notícia boa, parabéns!!

- Devo agradecer ao Hosni, se não fosse por ele...

- Verdade, ele comentou sobre o restaurante com você, não foi?

- Sim.

- Fico feliz, vai dar tudo certo!

- Obrigado!!

- Vem cá, você está com as chaves?

- Sim!

- O almoço esta no fogão, fique a vontade.

 - Preciso mesmo ir, ainda tenho que pegar dois ônibus!

  - Está indo à instituição?

  - Sim.

  - Até mais tarde então.

  - Tá legal, boa sorte!

 E assim, Ana desceu pela rua em direção ao ponto de ônibus, é uma mulher realmente notável, senti-me bem com suas palavras.

  

       

 Querida mãezinha.

     

  Ola, como vão as coisas por aí?     Espero que esteja bem!!

  A viagem fora demorada e cansativa, mas, cheguei bem e estou naquele pensionato como havia lhe falado.

 Infelizmente não tenho só boas notícias. Lembra de Dna. Maria, aquela que gostava dos seus tapetes de saquinhos de leite, ela faleceu, fiquei triste com a notícia, era uma pessoa muito boa.

  Mas fui bem recebido por Ana, neta de Dna. Maria, pelo jeito herdou suas boas qualidades, é uma moça muito gentil e prestativa.

  Todos que residem aqui, também são boas pessoas. 

  Como vê, não há necessidade de preocupação.

  Estou longe, mas, meu coração está aí, juntinho da senhora.

  A saudade é grande, sinto muita falta dos teus carinhos e nessa hora, até os puxões de orelha fazem falta.

  Com lágrimas nos olhos, vou ficando por aqui, fica com Deus, logo lhe mando mais notícias.

  Dê um abraço à todos aí!!

 

P.S

  Ah, se puder não botar fogo no meu quadro, ficarei muito feliz! Tive até pesadelo por causa disto...

HáHáHá...       

  

Com carinho:                                                    

                                            Seu filho.

  

  

  E assim, dois anos se passaram.

  Bom, em geral tudo ia bem, conclui o primeiro grau no Vila Gellin Neto, colégio que fica atrás do estádio da Ponte Preta, e por falar nisso, não posso deixar de mencionar esse grande acontecimento da cidade, que é o dérbi entre seus dois maiores rivais esportivos, Guarani e Ponte Preta. 

  Quando acontece o confronto, Campinas inteira saem as ruas tremulando suas bandeiras e soltando rojões, nunca vi nada tão espetacular, tirando os caras do quebra-quebra, a festa é um show à parte. 

 Enfim, até que me adaptei bem no restaurante, estava tudo perfeito e quando achava que a vida era um mar de rosas, veio o grande escritor do universo e resolveu me mostrar que estava redondamente enganado...

  Naquele dia, estava no trabalho em meio aquela correria toda com os preparativos para abrirmos o restaurante, quando chegou o chef cozinheiro reunindo todos os funcionários na sala de espera, até então, ninguém sabia o que estava havendo. 

 O Sr. Marcos Villela um dos sócios, entrou na sala com o semblante desolador, olhou para cada um de nós e por fim disse que o restaurante fecharia as portas pois a proprietária Sra. Julie Marston havia falecido, também explicou os motivos do porque não assumiria os negócios. 

  A tristeza se abatera a todos, o pranto foi inevitável, Dna. Marli, a cozinheira mais antiga e mais próxima da Sra. Julie, não se conteve, caiu em lágrimas, foi de cortar o coração.  

 Eu, a conheci muito pouco, mas foi o suficiente para saber que era uma mulher de caráter, pessoa de bom coração.

 Após este fato lamentável e determinante para outras questões, o restaurante funcionou por mais alguns meses.

 Dois longos anos longe de casa, com a saudade apertando o peito, resolvi que a melhor coisa a se fazer, era voltar. 

 Infelizmente, pela falta de experiência, o pouco estudo, a imaturidade, fatores que sumariamente impediram-me de um certo engajamento profissional.

 No entanto, ainda estou descobrindo a vida, essa viagem foi tudo de bom que poderia ter me acontecido, afinal, nada do que façamos é em vão, cada coisa por mais simples que lhe pareça aprender, será bem aproveitado no futuro.  

 Na despedida, Ana, abraçou-me bem forte e disse:

- Um dia, você se lembrará de tudo que aqui passou, e então, juntos estaremos novamente! 

  Eu, olhando em seus olhos negros lacrimejados, completei:

 - Farei melhor, escreverei sobre ti, assim, o mundo inteiro saberá quem foi Aninha, neta de Dna. Maria Elisa, a moça de silhueta como de uma dançarina de tango!

  É difícil dizer algo que expressa este sentimento que nos aperta o coração, na verdade, é melhor não dizer mais nada, apenas que...

 As lembranças e os ensinamentos que temos do passado, faz com que hoje sejamos melhores pessoas, faz com que hoje, erramos menos, brincamos mais, aproveitar cada segundo desta breve vida, essa é a palavra de ordem!   Valeu, até a próxima.

  

  

                            Carlos de Oliveira.

    

                      F i m