assim ou ...nem tanto 52
Verba volant scripta manent
Escrever a branco no branco é como se nada se tivesse escrito. Para que algum ato valha, urge que se saiba, se sinta, se veja ou o resultado da conta será zero. É por isso que se procura o escuro para nele se esconderem os pecados mais fortes. Tudo o que se passou no escuro e ninguém viu, não aconteceu. De certa maneira é como escrever preto no preto, azul sobre azul, desenhar mapas na pele da mão ou escrever no teu peito como se fosses um morno quadro de escola, um caderno de papel especial. Só o teu coração vai registar e guardar, só a tua memória poderia dizer se, por absurdo, quisesse. Acontece o mesmo com os segredos sussurrados junto á orelha. Cuspidas as palavras, cócegas feitas no soprar de coisas às vezes cabeludas, apenas saberá quem viu que houve um segredo que, segundo o que sabemos de quem disse e da reação de quem ouviu, pode ter classificações entre o nada importante e o tema secreto com código. Este último pode suscitar as mais empoladas curiosidades. Não poderia ignorar os recados escritos com sumo de limão que só revelam o que está à chama de uma vela. Saber isto é vital para quem ache que se perdem as palavras escritas quando o que é verdade diz respeito só às que o vento leva. Escrevemos não importa onde nem com que contraste mas escrever é gravar antes no cérebro e esse original é passível de leitura pelo que traçou as palavras ou por quem as sofreu. Que seja um segredo lindo, um momento empolgante no escuro, um passeio sem luz pelo teu campo minado, ou, se luz houver, se ditos disser, que morra em nós a informação, se rasguem os papeis, se ocultem as palavras, se fechem as portas e janelas e que o diamante mais lindo brilhe só para os olhos certos na hora ideal. Deus poderia mas não é “voyeur”.