U T I

UTI, também conhecida como CTI, é o nome vulgar da Unidade de Terapia Intensiva, local para onde são encaminhadas as pessoas que precisam de cuidados intensivos e que, ou por intervenção cirúrgica ou por acidentes das mais diversas origens, estão na iminência de morrer, ou em bom pernambuquês “entregar o couro às varas”, “bater a caçuleta” ou ir para a “cidade dos pés juntos”.

Depois de submetido à angioplastia, fui levado para a UTI do Hospital Pio XII e lá permaneci por três infindáveis dias na unidade coronariana, vez que o meu acidente foi cardiovascular, onde permaneci ligado aos aparelhos que monitoram as frequências cardíaca e respiratória, a pressão arterial e o nível de saturação de O² circulante.

São monótonos e entediantes os sons dos diversos bips, luzinhas piscantes e o gotejar ininterrupto das oito bolsas do soro fisiológico ligado ao acesso venoso periférico instalado no antebraço direito, por onde, várias vezes ao dia, foram injetados outros medicamentos.

Todo esse soro que tomei teve como objetivo regularizar a função renal devido à dose cavalar de contraste aplicado durante o procedimento da angioplastia, mas mesmo assim, pude dormir a maior parte do tempo.

Afinal, até hoje, nada, absolutamente nada, me impede de conciliar o sono.

Nos momentos de vigília e das seis refeições diárias pude conversar com os diversos profissionais da UTI.

São psicólogos, fisioterapeutas, enfermeiros, médicos, copeiros, auxiliares de limpeza, sempre disponíveis, bem humorados e que, invariavelmente, começam e terminam as conversas com as fórmulas prontas, quase um mantra:

Bom dia (ou tarde ou noite)! Tudo bem? Como está se sentindo? Como passou a noite? Alguma dor? Xixi, cocô? Algum incômodo? Está dormindo bem? Já falou com seu médico? Ótimo! Vai dar tudo certo! Até logo. Qualquer coisa é só avisar, viu? Depois eu volto.

Sabe aqueles exercícios para os membros inferiores que são recomendados para passageiros de aeronaves de longos percursos? Pois bem, a cada duas horas, alguém da fisioterapia passava e me mandava executá-los.

Evidente que só pude mexer a perna direita quando foi retirado o acesso inguinal.

Vale salientar a precisão e a força exercida na incisão pela enfermeira que retirou o equipamento.

Olhando para aquela figura magra e de baixa estatura, de cor quase diáfana, cabelos translúcidos, fala mansa e gestos meigos, ninguém será capaz de avaliar que ela tem nas mãos, talvez, a mesma a força exercida pela mordida de um Jacaré Açu, um Tubarão Branco ou uma Hiena em torno de 600 k por centímetro quadrado.

GLOSSÁRIO

Caçuleta = derivação semântica de cacholeta que significa cabeça

(Continuação de IAM/ Continua em PESSOAS INTERESSANTES)