Sentimentos de um fim de tarde de domingo

Quase cinco horas da tarde de domingo dessa estação invernosa. Poderia ser mais um dia qualquer, mas hoje o sol lá fora está tão lindo. Da janela da sala, contemplo um azul dispersado entre camadas enfileiradas de nuvens cinzas. Consigo ouvir os pássaros cantando numa sinfonia que - de tão agradabilíssima que soa aos meus ouvidos - torna-se indescritível. Do sofá, ainda que sentado, consigo bailar no mesmo ritmo que os galhos de andus carregados de folhas verdes, plantados num cercado que meu pai fez há algum tempo atrás: A colheita se aproxima e, muito em breve, teremos farofa na panela. Dos mais pequenos aos mais velhos, bocas que se aguam. Todos de acordo que a comida da dona Ana é a predileta. Consigo ouvir o conversar dos dois gêmeos da vizinha, que brincam inventando tantas brincadeiras nas tardes de suas infâncias fagueiras, sem terem brinquedos, e nem precisam tê-los, pois brincar foge à fábrica, não tem segredo. Apesar de não ver, consigo imaginar os bichos, as formigas e outros insetos perfazendo o chão da terra molhada pelo orvalho que anuncia, aos poucos, a chegada da noite. Sinto como eles. Como o sol que fez revolução e, quebrando as regras com o senhor Inverno, resolveu aparecer, dando as caras, o ar da graça. Como os pássaros que cantam, os pés de andus que dançam, os bichos que na terra andam...Sem nenhuma preocupação, me esqueço da rotina, do viver pronto, fabricado, pré-estabelecido, esquematizado. Daqui de dentro de casa, sinto tantas coisas. Sinto meu coração pulsar me dizendo que estou vivo. Os pelos dos braços arrepiando-se com as faíscas de vento que entram pela janela, acariciando minha pele. Sinto como sol em mais um fim de tarde de domingo. Como a noite que vai chegar. Sinto tanto, que nem sei como explicar. Até tentei poetizar, contudo, bom mesmo é deixar como está e apenas sentir, senão perco a contemplação, perco o encanto, o estado, perco o sentimento.