O RELÓGIO
Ele está na parede do escritório desde quando entrei na empresa, em julho de dois mil e dois. Sempre me chama a atenção o ponteiro dos segundos por ser o que anda mais depressa e nos traz a realidade da irreversibilidade do tempo. Como diz a música do Cazuza: “O tempo não para”. É uma das coisas da vida com as quais não podemos, e nem adianta, lutar contra. Temos que aceitar e pronto. Assim como o envelhecimento que deteriora nosso corpo constantemente, desde que nascemos.
Em algumas ocasiões podemos achar que somos eternos. Ou que nunca envelheceremos. Envelhecer é uma dádiva. Quem não envelhece, morre. Nosso corpo tem começo, meio e fim. Não há o que altere essa lógica também.
Quando somos jovens a preocupação com o tempo é apenas no sentido de não nos atrasarmos, ou com algum compromisso marcado. Na juventude não temos a preocupação de que o tempo continuará, mas não estaremos presentes para sempre. Nossa vida terminará um dia e no segundo seguinte o ponteiro dos segundos estará seguindo seu redondo caminho infindável. E se acabar a bateria, alguém trocará e ele continuará indefinidamente. Se o relógio quebrar, logo terá outro na parede, marcando cruelmente a proximidade de nosso fim.
Para falar a verdade esse relógio nos ajuda a entender que tudo urge, mas ao mesmo tempo tudo deve ser sorvido com todo o prazer que se possa ter de cada segundo, pois eles são tão preciosos que não temos o direito de desperdiça-los com coisas inúteis, apesar de que estamos sempre fazendo isso.
Mas lá, na parede, pendurado por um prego que parece nunca enferrujar, está o relógio cumprindo sua missão, marcando o tempo irremediavelmente cruel.