COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ
Habitamos um planeta em que podemos desfrutar da natureza, de direitos e deveres, de um livre arbítrio, ainda assim usufruir de um multiuniverso, imenso, único e particular. Nascemos para sermos humanos, acreditamos que sabemos o que é viver. Porquanto basta ter algo consigo que é cobiçado por muitos para que então, por vezes, sintamo-nos egocêntricos, egoístas, no direito de que unicamente podemos ter aquilo e ninguém pode mais lhe tolher. Isso é clarividente, quando, por exemplo, participamos de ciclos sociais, seja com os vizinhos, amigos, profissionais, reuniões festivas, pois agimos em certos momentos como se fôssemos “donos da verdade” como se fôssemos intocáveis. Certa vez disse o cientista britânico Stephen Hawking que mesmo as pessoas que dizem que tudo está predeterminado e que não podemos fazer nada para mudá-lo, olham para os dois lados antes de atravessar a rua. Compreendemos unilateralmente, que nada pode nos afetar; que o mal passará longe; que se a vida pode ser ingrata, será exclusivamente com os outros, pois cada um tem sua individualidade e decide o caminho a seguir. E se conjectura que quem escolhe bem, vive bem, quem escolhe mal, vive mal!
Com esse intuito, por ocasiões, não desenvolvemos ações e pensamentos coletivos em que deveríamos compartilhar informações, objetos, comidas, bebidas, roupas ou agasalhos. Temos muitas vezes um sentimento de posse surreal, que tão somente perde o valor, quando alguma coisa nos abate com uma força cabal, que tudo parece não ter mais sentido ou valor. Neste momento pensamos, então, nos lembramos do outro, começamos a nos colocar no lugar do outro, inicia-se um pequeno processo de empatia pelo próximo. Sentimos de vez, que também somos todos iguais, que somos de carne e osso, que nesse tempo de desilusão ou de tristeza, temos a sensação de que o pedestal não é somente para um, mas todos devem ter seu espaço e podem repartir um pouco conosco. Segundo o psicólogo americano Carl Ransom Rogers, ser empático é ver o mundo com os olhos do outro e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele.
Bem, para que se tenha um pedestal é necessário que outros nos ajudem nesse equilíbrio, a firmar esse esteio, é necessário estrutura e legitimidade; que haja apoio plural, que haja a crença de outros, naquele que está lá, representando alguém ou uma classe. Nada se faz sozinho, há uma coparticipação, há um trabalho em equipe, há um misto de ideias em que cada um contribui parcialmente para o aprimoramento, mesmo que em momentos diferentes. E essa força em unidade é que fará grandes transformações e poderá influenciar a muitos. E nos acontecimentos diários da vida, inevitavelmente é assim, é imperioso pensar de forma ativa e coletiva. O que aflige alguém hoje, pode nos afligir no amanhã; o que é tristeza de um hoje, pode se decompor na alegria do outro amanhã, dependerá de um ponto de vista, da inteligência e sabedoria com que lidaremos com o artifício. De acordo com o militar e sertanista paulista, Salvador de Faria Albernaz, nascido no final do século XVII, todos são peças importantes no trabalho em equipe, cada um representa uma pequena parcela do resultado final, quando uma falha, todos devem se unir, para sua reconstrução.
Como disse o poeta Renato Russo na canção Pais e Filhos: é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Somos um e somos muitos. É necessário ser individual, mas não individualista é necessário ser único, mas não sozinho e viver na solidão. Dessa forma não é necessário ser melhor que ninguém e nem pensar e agir assim. O envolvimento do grupo nos leva a crer que haverá maior reciprocidade entre os componentes desse, com legitimidade e reconhecimento. Há um velho ditado que nos diz que ninguém ama aquilo que não conhece. Por isso vale lembrar que gentileza gera gentileza, alegria gera alegria, bondade gera bondade, justiça suscita justiça. É mister que uma mão possa se estender no caminho da outra que possa estar caindo. Existem muitas experiências de vida que retratam que esse apoio mútuo pode transformar a vida de cada um, converter a vida de numerosos, seja para o bem ou para o mal. E com esse espírito nos afirma o professor e educador Danilo Gandin que a unidade não vem do fato de todos, pessoas e setores, de uma instituição realizarem as mesmas ações, mas de todos caminharem na mesma direção. O que você decide? A escolha é sua, mas o problema não é só seu! Estamos todos nós remando nesse barco! Vamos olhar para a mesma direção e unir forças para chegar à terra firme, chegarmos ao objetivo final, juntos, um pelo outro!