Pormerones /cap Vl

A mesa estava posta para o café da manhã, todos haviam se ido para seus trabalhos... 

- Graças a Deus!! Pensei quase levando as mãos aos céus.

 Ana, estava intertida com os preparativos para o almoço.

 - Bom dia Ana! Disse eu de cabisbaixo.

 - Bom dia! Respondeu ela e pelo som grunhido de sua voz,  parecia estar de riso nos lábios. 

 - E então, como passou a noite?

 - Bem, obrigado!

 - Senta aí!

 - Tem bolo, pão, leite, café.. 

 - Sirva-se, fique à vontade.

  Servindo-me de uma fatia daquele bolo e uma bela xícara de café, sem olhar diretamente, tentei falar algo, puxar assunto, mas nada me vinha à mente.

 Apenas uma pequena mureta, separa a sala da cozinha.

 Colocando algumas panelas no fogo, veio, serviu-se de uma xícara de chá com algumas gotas de limão e se sentou.

 Fez-se um oportuno silêncio, quando de repente, como se fosse combinado, soltamos uma estrondosa gargalhada, foi um disparate só, Ana, não se conteve de tanto que ria...

 - Você ouviu? Disse me virando para Ana. 

- Quem não ouviu!! Exclamou recuperando o fôlego.

- Cara, fala verdade!!

- Estava tão intertida aqui, com minhas panelas... 

- Levei um baita susto daqueles!

- O que aconteceu?

- Que quadro que sumiu??

Para não estender ou complicar ainda mais a situação, resumi:

 - Pesadelo!!

- Tive um pesadelo terrível, talvez pelo cansaço da viagem, e tudo mais.

- Desculpe, você deve estar me achando maluco!

- Não, muito pelo contrário, aliás, tenho uma explicação lógica para o que aconteceu! 

- É, e, o que seria? Indaguei curioso.

- Em parte você está certo, tudo o que fazemos durante o dia, nossos sentimentos as emoções que passamos, reflete-nos em sonhos quando estamos dormindo, alguns, tão intensos que nos fazem ter pesadelos, delírios...

- E sabe o que acho mais incrível em tudo isso?

- O sonambulismo!

- O ato de andar e falar enquanto se está dormindo?

- É bem por aí!

- Mas, não é tão simples assim, quando atingimos um sono profundo, a mente se trancede do corpo, se separa.

 O sonambulismo nada mais é que um despertar desequilibrado do cérebro.

- Não está entendendo né?

- Bolufas!!

- Calma, eu te explico!

- Imagina você estando no mundo dos sonhos, sonhando que esta num avião ou em uma festa ou qualquer outra coisa e seu corpo físico, passeando pela casa, abrindo a geladeira, procurando as chaves para poder sair...

- Evidentemente, sua família acorda e pergunta, - a onde você vai -, e você, já com as chaves nas mãos, de olhos bem abertos, por incrível que pareça, você da respostas bem lúcidas como se estivesse acordado.

- Entende, no sonho você está fazendo uma certa coisa mas o corpo está fazendo outra totalmente diferente, isso sim é maluco!

- Totalmente de acordo!! 

- Nunca pensei desta forma!

- Pensando bem, certa vez numa manhã, minha mãe veio e me perguntou o que eu fazia parado diante da tv ligada as 2:30hs da madrugada.

 - Mas eu não me lembrava de nada disto, talvez estivesse sonambulo!

- Bem capaz!!

- Que coisa mais morbida!! Exclamei, um tanto sombriamente 

- Quando estamos sonambulo, nada daquilo que façamos é lembrado.

- Interessante, agora deixa eu te perguntar, como você sabe tudo isso?

- Elementar meu caro!! Disse Ana, apontando  para um canto da sala.

 Sob uma mesa de centro, se encontra alguns poucos livros desorganizadamente arrumados. 

- Tá explicado!

- Você faz faculdade?

- Não, eu faço parte de um trabalho voluntário nos fins de semana em uma instituição psiquiátrica.

- Não que se precise necessariamente ler livros para isso, mas, é natural das pessoas buscar um pouco de entendimento quando se envolvem com determinado assunto, no meu caso mais ainda, pois você está lidando com pessoas que sofreram algum tipo de distúrbio psicológico, assim, consigo realizar melhor aquilo que me propus a fazer.

- E o que você faz exatamente?

- Bom, em particular o grupo é formado por alcoólicos e viciados, basicamente, insiro entretenimento como músicas, brincadeiras, leituras...

 Coisas que podem fazer com que o paciente se sinta, estimado e útil, encorajá-los é essencial nesses dias tão difíceis e penosos.

 Esta é a motivação que precisam para voltarem a ter uma vida normal de novo.

- Quem sabe um dia desses você não vá comigo, é bem legal, verá que nossos problemas, não são mesmo, problemas.

- Claro que sim, não faltará oportunidade!

- E você, vai dar umas voltas conhecer a cidade, quero dizer, matar a saudade?

- O dia está bem propício para isso, mas estava pensando no que disse Hosni sobre o restaurante, conciliar as duas coisas seria bom.

- Vai se sair bem, não se preocupe!

- Não tenho dúvidas disso, uma pitada de empenho e 1/3 de sorte, tudo se resolverá, como este belo café da manhã que, com certeza, se exigiu muito mais que isso!! Ana levemente sorriu, e de subto, se levantou rapidamente e foi ter com suas panelas ao ouvi-las chiar.

 Foi então que percebi, estava mais linda que no dia anterior.

 Usava um vestido florido similar a seda na altura dos joelhos, esbelta e de pernas bem torneadas, identificando a silhueta como de uma dançarina de tango.

 Sem se parecer vulgar, dispertaria os desejos mais febris na mente de qualquer homem.

 Apreciando aquela figura que, além de formosa e inteligente, era dotada de uma virtuosa compaixão ao próximo, me despedi com um até logo, e sai.

-Continua-