A Canarinha e a Eurocopa

          1. Estou ligado nos jogos da Eurocopa. É como consigo ver um bom futebol. Bom, não, excelente. Um futebol criativo, inspirado, alegre e sério, fantástico, como um dia foi o futebol do Brasil.
          2. Isso mesmo. No passado, nosso futebol encantava tanto aos gregos como aos troianos. Nossa Seleção, por exemplo, só tinha craques. Não era uma seleção de um craque só, cujo desempenho em campo dependia da maior ou menor intensidade da ressaca provocada pela farra da noite anterior.
          3. Na pessoa do jogador Mané Garrincha, para não chamar por outros tão bons quanto, quero homenagear os craques das seleções canarinha d´outrora.
          Nelson Rodrigues, em uma de suas crônicas em À sombra das chuteiras imortais, disse sobre Mané: "Feliz do povo que pode esfregar um Garrincha na cara do mundo." 
          4. E sobre Mané Garrincha, in Quando é dia de futebol, escreveu Carlos Drummond de Andrade: "Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos nos estádios".
          5. Nossa seleção de futebol d´agora chegou aos infernos sob o comando do senhor Carlos Caetano Bledorn Verri, mais conhecido como o senhor Dunga.
          Foi eliminada de um dos mais importantes torneios do futebol das Américas. O fracasso da equipe canarinha determinou a mudança do técnico.
          6. Vamos ver o que fará o senhor Adenor Leonardo Bacchi, mais conhecido como Tite, escolhido para tocar o barco.
          Deve introduzir profundas alterações no elenco. E não permitir que nossa seleção deixe de participar da Copa da Rússia. Caso aconteça, será o fim da picada. Os alicerces da República estarão comprometidos.
          7. Quanto ao campeonato brasileiro de futebol, há muito deixei de acompanhá-lo.
          Não aguento mais ver o meu Vitória, o glorioso rubro-negro baiano, ficar, por horas, entre os primeiros da tabela para, em 90 minutos, despencar, mantendo-se a um passo da segundona.
          8. Restou fazer-me torcedor da Eurocopa. E vão me perguntar por qual seleção estou torcendo. Direi que por aquela que tiver um bom desempenho neste envolvente torneio reunindo as melhores seleções do Velho Continente.
          9. Aplaudindo, sempre, lances geniais como o que saiu dos pés do craque luso Cristiano Ronaldo; seu gol de calcanhar é o que se pode chamar de um "gol de placa", expressão criada pelo saudoso jornalista Joelmir Beting, comentarista esportivo, antes de brilhar comentando assuntos ligados à Economia.
          10. Já que neste pálido comentário me dei ao luxo de citar duas estrelas de primeira grandeza da nossa constelação de belos escritores, Nelson Rodrigues e Drummond,  vou recordar o que sobre o futebol no Brasil escreveu, no início do século passado, o romancista alagoano Graciliano Ramos.
          11. No ano de 1921, o velho Graça "defendeu que o futebol era uma moda passageira que jamais pegaria no Brasil".
          Equivocou-se o autor de Insônia. O futebol é hoje uma instituição nacional. E desde a Copa do Mundo de 1950, apesar da derrota da seleção brasileira para a seleção uruguaia, à época, a poderosa La Celeste.
          12. A partir da copa de 50, jogadores de indiscutível talento foram surgindo e nossa seleção foi ganhando jogos em todos os recantos do planeta. 
          O Brasil passou, então, a ser conhecido como o país do futebol; diferente do que prognosticou o festejado escritor das alagoas.
          13. Com a sucessão de insucessos da seleção brasileira de futebol, me senti humilhado, decepcionado, frustrado.
          A ponto de ser forçado a sentar nas arquibancadas estrangeiras e bater palmas para ídolos que não são ídolos verde-amarelo. Até quando, não faço a mínima ideia... 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 25/06/2016
Reeditado em 26/06/2016
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