Em busca dela mesma

E quantas vezes fechou os olhos e procurou a si? Ela perdia os versos em busca de respostas tão mais concretas, que transpunham a exatidão daquilo que parecia ser o que era. Tão exata, tão ausente de si. Passava muito tempo no telefone, algo em seu interior pedia aquela atenção, sentia-se só, dos outros nada pedia. Mas pediam dela. Pediam muito, pediam por algo que ela não podia dar pois que a ela ainda muito faltava, e era o que havia ficado. A ausência de si que de muito se diferencia da solidão, algo ainda mais perigoso, como se sua alma a pedisse explicações. E eis o que ficou, de um tempo tão longíquo quanto seus 18 anos, era uma criança, certamente. E esse tal tempo, que se foi com a amargura de términos que dispensam começos, tornou-a incrédula à vida ainda que soubesse que a vida de nada havia começado. E prendia-se à distância dos versos, preferia não ler pois que seu amor pelas palavras a instigaria pensamentos e, para a menina, eram sinônimos de sentimentos. E sentia, em urgência, em exagero. Talvez fosse sua melhor qualidade, adorava a autenticidade das hipérboles verdadeiramente sentidas. Mas era, de certo, seu maior desafio: sentir menos. A racionalidade era chata demais, não é à toa que números e contas a entediavam desde os tempos de escola. O coração insistia em não se refazer e a vida em não seguir, mas, ela que urgia com seu relógio, não parava a busca por novas frases, talvez um livro inteiro. E continuaria. Iria ao fim do mundo, ao mais profundo de si, a qualquer lugar, em busca dela mesma.

Fernanda Marinho Antunes
Enviado por Fernanda Marinho Antunes em 24/06/2016
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