Pormerones /cap II
Voltando para nossa viagem e ao famoso Walk-Men, que a essa altura, as pilhas já haviam descarregado, tão pouco preocupante em vista de uma situação quase trágica, se por ventura, não viesse despertar a tempo.
O relógio marca,15:00hs da tarde.
Nada mais angustiante e porque não dizer, traumático, viajar por mais de quatorze horas por um trajeto que não levariam mais que oito, como havia dito Dna. Leonor.
Claro que era um transporte de total liberdade e de livre acesso aos vagões, alguns bem modernos e luxuosos com restaurantes, tvs e tudo mais, mas quando bate a canseira meu amigo, aí não tem jeito.
No início, fora uma viagem de tirar o fôlego, tanto, que fiz mais amigos nesta viagem que no primeiro dia de aula em um colégio novo.
E como é difícil fazer amizade neste dia, pelo menos, assim era até o recreio!
Logo, me vem à memória daqueles anos incríveis, quando passei a estudar numa escolinha de uma comunidade fazendeira próximo a comarca de Tupã.
Fazia pouco tempo que havíamos chegado de Campinas, onde a família passou uma breve temporada em meados dos anos de 78.
E lá estava eu, de manhãzinha, com o caderno de brochuras, a cartilha, lápis e borracha nas mãos, solitário num canto aquela escolinha circundada por amoreiras, esperando a professora chegar da cidade.
Crianças correndo umas atrás das outras brincando, eu, em minha tenra idade, tão timidamente que era, sentindo-me como um ser de outro planeta.
Mas, o pior momento estava por vir, quando a 'tia', havendo todos os alunos acomodados em suas carteiras de madeira que mais pareciam, banco de estação ferroviária, lhe pede que se levante e se apresente para toda a turma.
Para uma criança de oito anos é no mínimo terrível.
Mas, se você escolheu uma das primeiras carteiras da fila, fique tranqüilo, só terá a sua frente, a carinha de felicidade da professora por finalmente ter concluído o curso de magistério e conseguido a tão esperada vaga em que se encontra.
Seus medos serão menores, falará alto e claro.
Agora, se escolheu a carteira lá do fundão então meu amiguinho, reze, todo mundo estará de olho em você, alguns lhe fazendo careta, mostrando a língua, como bons 'capetinhas' que são, tirando sua tranqüilidade, e fique certo de que irá gaguejar seu próprio nome.
Por sorte, esta era uma viagem totalmente diferente das outras, pela primeira vez viajo só, a idéia da liberdade o rompimento do cordão umbilical e logo de cara, eu com 16, deixando para trás a minha pequena cidade natal de Bastos.
Uma mudança dessa natureza, me fazia sentir que não existia nada além de uma euforia de contentamento que emergia de dentro do peito, sobre tudo, parti, para a "Cidade das Andorinhas", a aventura estava só começando...
-Continua-