Pormenores/cap I
Pormenores
De: Carlos de oliveira.
"Novembro de 1986'
De repente, despertei em meio ao susto por conta de um longo apito seguido por uma voz que berrava:
- Próxima estação, tenham seus bilhetes em mãos!
- Próxima estação, Campinas, seus bilhetes por favor!!
Abraçado a uma mochila e com os pés fincados sob uma pequena mala, desconfortavelmente, encontrei-me no último banco de um vagão daquele trem.
Jeito esse, de querer evitar um aborrecimento futuro, caso talvez, viesse a cair num sono imaginando essa etapa de minha vida tão repentina e eufórica ao mesmo tempo e como um marinheiro de primeira viagem, é preciso ficar atento!
Entre os sonhos e aquela voz assustadora que acabara de ouvir,ainda meio que sonolento, estiquei o pescoço por entre os acentos à minha frente em direção donte partira aquela voz.
Lá estava um senhor de estatura mediana, trajando um uniforme todo em azul-marinho, composto por um blazer, camisa de um linho fino, gravata em ton de vermelho e de cap sob a cabeça.
No peito, igualmente elegante, um emblema prateado da Ferrovia Paulista contrastava com aquele uniforme.
Trazia numa das mãos, um picotador de bilhetes e por entre os dedos da outra um camaço em notas miúdas dobrado no comprimento.
Era o chef ferroviário, vinha anunciando a próxima parada e picotando os bilhetes.
Recolhi guardando na mochila, aquele companheiro inseparável, Walk-Men, e a história deste pequeno objeto eletrônico, chega a ser interessante...
...Há mais ou menos seis meses atrás, houve um grande temporal na minha cidade, (Bastos), parecia que o mundo iria acabar em água, foi tão forte que ficamos sem energia da parte da tarde daquele dia, até o anoitecer do outro.
Sem tv, sem poder sair à rua, sem nada pra se fazer o jeito era dormir cedo.
No dia seguinte, que talvez fosse sábado ou domingo pois não me recordo de ter ido a escola ou por algum outro pretexto qualquer que inventara para não ir, - Nisso,eu era muito bom! - .
Enfim, no dia seguinte acordei e sai para ver se o tempo havia melhorado, foi quando tropecei naquela mala jogada no chão ao lado da porta toda encharcada.
Era uma bolsa muito bonita esverdeada, cheia de zíper e bolsos por todos os lados.
Olhei ao redor para ver se via alguém, mas a rua estava totalmente deserta.
Fiquei curioso com aquela mala, então chamei minha mãe e lhe mostrei, ela veio e também ficou abismada de como aquilo teria vindo parar em sua porta...
- Muito estranho!! Disse ela franzindo a testa.
Sua dúvida era se abriria ou não aquela mala.
Eu, de tão curioso que era, já estava quase pulando dentro pra ver o que ela continha, bastou uma olhada de rabo de zói de mãe, pra que eu me quietasse.
Mãe estava com o pé atrás, com receio de que algo não muito bom pudesse estar ali dentro.
Foi aí que disse a ela que poderia haver documentos ou coisas do tipo, - Persuasão, nisso eu também era bom!-
Mãe tutibiou no começo, mas se viu obrigada a abrir a bendita mala.
Pediu-me para que fosse buscar a vassoura, perguntei:
- A senhora vai varrer a casa agora?
Ela deu outra olhada daquela e eu sai correndo em busca do mesmo...
Com o cabo, mãe começou a revirar o que lá dentro havia...
Algumas roupas masculinas, calsas, camisas, objetos de higiene bucal, meias do tipo social e adivinhem... um Walk-Men...
Agora, custou muito até esse objeto vir parar nas minhas mãos, Dna. Leonor não era facill!
Pra finalizar, mãe guardou a mala por um bom tempo mas ninguém apareceu para reclamar.
E de tanta perturbação que fiz...
- Toma logo essa coisa e pare de encher minha paciência menino!!
Desde então o Walk-Men, tem me acompanhado por onde quer que eu vá.
-Continue-