João Pedro, conhecido pelos amigos como JP, até que era um bom marido para dona Augusta, católica ferrenha que só lhe dava, na cama, o que a bíblia permitia.
JP, homem fogoso, era obrigado a procurar, na rua, o que não tinha em casa.
Naquela quinta-feira, já que sexta é o dia mais manjado para o adultério, saiu com Cleonice, mulher de corpo escultural, bem abençoada pela natureza e bem maluquinha. O sonho dela era que ele abandonasse a esposa para viver com ela.
JP chegou em casa tarde e disse que estava numa reunião. A mulher engoliu, a sogra não.
Ela sabia que JP tinha as suas aventuras, mas ficava quieta. Sabia que a filha não suportaria viver sem o marido.
Domingo JP costumava sair para passear com a esposa e a sogra, que sempre usava sapatos altos. Quando os pés começaram a doer ela se livrou dos mesmos e calçou uma sandália que sempre trazia na bolsa, deixando os seus sob o banco.
Isso não seria problema se JP não tivesse encontrado os pisantes na segunda-feira, quando foi levar a esposa ao médico.
Quando ele viu aquele par de sapatos achou que era da amante.
Bandida, exclamou para si mesmo, ela quer arruinar o meu casamento. Eu não posso me queixar, Augusta é uma boa mulher, cozinha bem, traz a minha roupa sempre arrumada, cuida bem das crianças e o sexo eu resolvo na rua.
Mais do que depressa, jogou os sapatos pela janela.
À noite, quando ele chegou, a sogra lhe disse que o estava esperando para que ela pudesse pegar os sapatos que havia esquecido no carro, pois ia dançar, coisa que a filha sempre recriminava.
JP ficou branco de pavor. Como iria explicar à sogra que havia jogado seus sapatos fora?
Como era um homem de pensamentos rápidos, disse-lhe que havia emprestado o carro para um amigo e que, quando viu os sapatos ali esquecidos, pensou logo que seria de alguma mulher com a qual ele havia saído e que, antes que dona Augusta pensasse mal dele, jogou-os pela janela.
A sogra deu um sorrisinho pra ele, como quem diz: “conta outra, JP” e disse que não tinha importância, era só ele lhe comprar outro.