Vai São João, vem São Pedro

           Tudo aparecia vindo do milho, até mesmo brinquedos feitos dos grãos, das palhas, dos "cabelos" ou dos sabugos. Os fregueses de Inácio Ramos lhe presenteavam sacos de “mão de milho”; com isso, também rolavam, na A Barateira, suas dívidas, como a do madapolão, comprado para trabalharem na roça: Tecido fofo, de algodão, branco ou bege claro, “de cor amarelada como a da lã em seu estado natural”. Muito depois, a Teoria de Planck me explicaria o que agricultores, da escola da vida, já sabiam: Haver menor radiação solar naquela roupa clara, abrandando a quentura nos espinhaços dos lavradores do milharal.  
          Na infância, observava, nas feiras de sábado de Pilar, como nas terças-feiras de Itabaiana, sinais dos festejos juninos casados ao milho: Montes de espigas vestidas de palha, outras nuas nas mãos dos feirantes gritando o óbvio: “Olha o milho verde!”,  uma festa sazonal da colheita do milho. Há outro motivo rezado no nome do santo, repetido nas novenas e loas, inspirando Luiz Gonzaga cantar ao “São João do Carneirinho”: “Fale lá com São José para ele me ajudar, peça pra meu milho dar vinte espigas em cada pé” (...)  Dar milho verde, assado, cozido, pamonha, canjica, bolo ou cuscuz, ou que comer às galinhas, à bicharada.
          Posta a mesa, haja folguedos, forrós e quadrilhas na sapateada das matutas, dos matutos, vestidos de madapolão, cáqui ou chita estampada em cores acentuadas, e  um chapéu de palha na cabeça; como se fossem frutos da chuva, iniciada em março, no dia de São José. A matutice predomina nas festas juninas, excetuando o francês, trazido pelos mestres de dança Milliet e Cavalier ao Rio, para comandar a quadrilha palaciana, na época da Regência. Hoje, tal palavreado, já incompreensível aos franceses, ainda sobrevive, de geração a geração, como folclore, lazer e prazer, com o milho na Festa de São João e, de sobejo, na de São Pedro.