A Dúvida da Origem
Vou ao mais novo Shopping de Maceió, o mais frequentado por turistas nacionais e estrangeiros, pela sua excelente localização, de onde se avista o esverdeado mar de Cruz das Almas, um bairro em crescente expansão imobiliária. Anexa à Praça de Alimentação, há uma varanda com confortáveis poltronas, de onde se pode contemplar aquela exuberante paisagem da parte norte de Maceió. É ali que costumo sentar-me após o almoço, geralmente aos domingos, às vezes com direito a leves cochilos, levado pela agradável brisa marinha. Irresistível para quem tem o hábito da sesta, principalmente para um estreante de idoso.
Quase sempre, parte de mim a iniciativa de entabular um bate papo com o vizinho de assento. À minha frente estava um cidadão que parecia um pouco mais idoso do que eu, portanto, ideal para jogar conversa fora. Depois de algumas afirmações sobre aquele bom ambiente, sem nenhuma contrapartida do vizinho, imaginei que poderia ser um estrangeiro, alheio ao meu idioma. Então, tasquei-lhe o meu inglês: Where are you from?
Ainda em seu silêncio, olhou para sua mulher ao lado e, com um leve sorriso, respondeu: “alagoano mesmo”. E a mulher justificou que se antes ele não respondeu foi porque “esqueceu seu aparelho auditivo em casa”. Tinha certa deficiência de audição. Como se tratava de um cidadão alto e loiro, sem ter-me atendido inicialmente, imaginei que seria europeu, sem as minhas características de nordestino, e ainda por cima um sertanejo. Identificou-se como natural da zona da mata, perfeitamente justificável, pois foi ali onde surgiram os primeiros holandeses e portugueses. Portanto, de origem europeia, enquanto a minha está mais para índio ou caboclo, genuinamente brasileiro. Não é à toa que costumo dizer: “Sou um sertanejo do Vale do São Francisco”.