Tempos de Violência


 
Acostumou-se tanto com a brutalidade que a selvageria foi passada de geração para geração. Às vezes amenizada. Às vezes agravada. Sempre ressaltada aqui e ali sortidamente.
 
Buscando amenizar o rude, o humano desenvolveu a Arte. Pinturas nas cavernas, adornos nos corpos e enfeites para agradar os olhos.
 
Aí os rudes corromperam a Arte e produziram as religiões: sacrifícios e intersecções. Não ensina esta a abnegação? Aquela o sofrimento? A outra o morrer-se todo dia?  No oriente a orientação de doar-se. No ocidente, incidentes, crescemos com a ideia de sacrificar-se. Jejuns e panos de sacos disseram os judeus; espinhos na cabeça, pregos nos membros e sangue fizeram os cristãos; a morte em prol de Alá segundo os fanáticos que matam e se matam. Aqui e lá a mortificação todo dia. A divisão cultural entre o Leste e o Oeste,  se somos uma unidade humana, é a mais sutil perversão geopolítica. As religiosidades e as culturas inventaram o “amor” que tem que passar pela “dor”. Como se leu recentemente uma máxima que resume os ditames religiosos: “Se o Inferno é uma ameaça ou castigo, a promessa de um Céu é um suborno”.
 
Foi deste modo que as instituições – Família, Escola, Estado – tornaram-se formas domésticas de violências e violações para conter os horrores da guerra. Os castigos corporais e psicológicos foram formas estruturadas para “educar”, “civilizar” e “incluir” na sociedade que se queria  ideal.
 
Palmatórias, quartos escuros, “orelhas de burro”, premiações e humilhações públicas na infância. Para os que não se “corrigiram” na fase adulta restavam os calabouços, reformatórios, hospícios.
 
Absurdos do passado... Coisas do passado? Que nada! Ainda há saudosistas que querem resgatar violências mencionando honradez a torturadores; ovacionando violências das ditaduras; buscando o retorno das exclusões sociais e promovendo os discursos de ódios aos diferentes.
 
Nos noticiários, aqui, lê-se sobre o estupro coletivo à adolescente feito por dezenas de homens e por todos aqueles que se calaram ou acharam justificativas para tal. E lá o massacre na casa noturna onde se concentram homens e mulheres que buscam companhia do mesmo sexo. Massacre feito não só por um atirador, mas por todos que ele representa com seus discursos de intolerância aos que julgam diferentes.
 

São tempos de violências que se perduram ainda!
 



Leonardo Lisbôa,
Barbacena, 17/06/2016.


   
 
 

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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 18/06/2016
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