As Crônicas de Cingapura
No mundo todo, somente os países de língua portuguesa grafam Cingapura com a letra C. O resto todo vai com o S. Em sua toponímia, essa ilha-estado minúscula para ser um país, com pouco mais de 700 quilômetros quadrados, quer dizer, em sânscrito, cidade do leão.
A presença ocidental por aquelas bandas iniciou-se com as grandes navegações portuguesas, desde o fim dos século XV. Por lá deu Vasco da Gama, atrás das índias e das especiarias. E por sobejas razões, o Índico tornou-se um palco de atrações.
Como legado das incursões portuguesas, pelo sudeste asiático estabeleceram-se entrepostos comerciais em vários pontos, de que hoje são testemunhas mais eloquentes, Goa, Diu, Malaca, Timor Oriental e Macau. O Timor Oriental, após séculos de exploração colonial, tornou-se país independente e constitui, hoje a única nação que tem o português como língua oficial em toda a região. Os demais foram absorvidos por países como a Ìndia, a China e a Malásia. Mas ficou viva, a herança portuguesa, como por exemplo, a incorporação de centenas de palavras e até expressões, no idioma Indonésio.
Fiquemos em Cingapura, para não mais nos dispersarmos. Quem pega a lista telefônica desse país de uns cinco milhões de habitantes irá se surpreender com os Freitas, os Araújos, os Pereiras e mais, que lá encontrar. Miranda que sou, lá senti-me em casa. Dos outros, é verdade, mas paguei meu aluguel em duas passagens que, juntas, somaram sete anos. Recomendo, sobretudo para quem gosta da vida urbana, da ordem, da modernidade - e que odeie lixo nas ruas e pixações.
De agosto de 2000 a janeiro ou fevereiro de 2003, subsidiariamente ao serviço da Embaixada, participei, a convite, de uma publicação mensal que por lá circulou, de interesse da comunidade de brasileiros expatriados e outros falantes de nossa língua, denominada SingBrasil. Essa comunidade, flutante sempre, compunha-se de algumas dezenas de famílias. Todos ou quase, profissionais qualificados em diversas áreas, das finanças à academia, passando, claro, pela engenharia.
E nesse período produzi cerca de uma trintena de textos, de uma média de 2 a 3 laudas. Abordava e nunca abortava variedades do dia a dia na ilha, na vizinhança e na pátria lembrança.
Consegui recupar uma dúzia desses escritos, graças ao desvelo de nossa confreira recantista Nanda Araújo que me obsequiou com o seu empréstimo e que publiquei em minhas páginas deste RL, em 2013 e 2014. Éramos, então felizes, e - parodiando o estilo temérico - sabíamo-lo.