O ENCONTRO SE REALIZA ...

Tereza Freire

12 junho 2016

Quatorze horas. Casa arrumada. Mesa posta. Pronta para um café quente com bolos e salgados. O interfone toca. Uma mulher chega. Um abraço, um beijo, risadas e o cumprimento de quem gosta de se encontrar. Outro toque do interfone. Dessa vez são mais duas. Os abraços se repetem, os beijos fraternos nos rostos risonhos se multiplicam. E o burburinho das vozes aumenta.

Assim continua. Cada toque do interfone representa mais uma, duas ou à vezes três ou quatro mulheres. E quando meu dou conta a sala está cheia. São sete, oito, nove, as vezes até dez amigas reunidas. E não é mais burburinho. É uma conversarada entre uma e outra, entre todas.

Na animação do encontro, da prosa solta, alegre, entusiasmada, a discussão inicia. Discussão? Vai dar a impressão que o grupo está a brigar. Nada disso! O debate se inicia porque é um grupo de leitura que se reúne por ter objetivos comuns: usufruir da amizade que a companhia possibilita e debater sobre temas que estão presentes nas suas leituras, que são frutos da experiência, que são reflexos de vida bem vivida.

Preconceito, culpabilidade, limites na educação, atitudes, privacidade, individualidade, relações de poder, relacionamentos, influência nos comportamentos sociais, virtualidade e por ai seguem as questões dos debates que são sempre ricos em opiniões diversas, mas constantes na conclusão equilibrada, de bom senso, de visão amadurecida.

Os pontos de vista expostos refletem o interior de cada uma. Ali, naquela roda de amigas que curtem a leitura, a aprendizagem, o compartilhamento e a troca de saberes individuais, os pensamentos se traduzem em palavras, os insights afloram, as reflexões tomam forma discursiva, a sensibilidade se demonstra em cada maneira de analisar as questões.

E no vai e vem das interpretações, das análises, das conclusões, a alegria da parceria é contagiante. O debate sempre acalorado, não por conta do discurso impositivo, da verdade única, não, ao contrário. O debate é acalorado por conta da riqueza das visões diferentes, das ironias quando o caso requer, dos elogios quando a situação demanda ou simplesmente por estarem reunidas com a oportunidade de expressarem suas apreciações sobre o que leem, testemunham, o que ficam sabendo e experienciam.

O interesse pela polêmica, pela controvérsia aprofundada, embasada se estende à convivência de amigas que se curtem, inclusive, no whats, mas principalmente nos encontros pessoais, pois nada substitui a presencialidade, o carinho e o afeto que todas demonstram ao se fazerem presentes nestas tardes prazerosas.

Todavia, esta satisfação pelo estímulo ao trabalho mental, ao raciocínio, à memória e ao conhecimento literário tem seu gran finale em volta de uma mesa repleta de saborosos quitutes regados com café quente, com suco de frutas e muita conversa recheada de risos. E os ‘papos’ continuam livres, sem formalidades porque elas partilham a intimidade de quem se conhece desde os momentos frívolos até os densos, de quem tem participação nas vidas de cada uma.

Ali, novamente, ao meio de goladas de café, mordidas em pãezinhos e doces a próxima data de outro encontro é definida e os temas suscitados para que todas reflitam e concordem ou deem outras sugestões.

As despedidas começam. Umas vão mais cedo para encontrar os maridos que chegarão em casa. Outras porque moram mais longe. Também para evitar o trânsito pesado. Algumas ficam para uma conversinha final, aquelas longas despedidas das mulheres que parecem que não se veem há anos. Os abraços e os beijos de despedidas se propagam. A animação gerada pelo encontro acompanha cada uma. A profusão de ideias, conceitos e concepções fervilham em suas mentes enriquecendo suas convicções, transformando suas teses, esclarecendo suas crenças. Partem assim, vibrantes e entusiasmadas pela oportunidade do próximo encontro.

A casa se aquieta. Algumas luzes se apagam. O barulho das vozes é substituído pelo som das notícias divulgadas na televisão. Mas, fica no ar um clima vivaz, dinâmico. E a sensação de que o próximo encontro será ainda melhor, se isto for possível. Porque juntas criam uma compreensão intangível, invisível, mas sentida de que o debate é profícuo em suas vidas.

E novo encontro... Quatorze horas... Casa arrumada... A reunião se inicia... do jeito que esta crônica se iniciou...

Tereza Freire
Enviado por Tereza Freire em 15/06/2016
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