O dito pelo não dito
Engraçado, estou com vontade de me matar, dar fim à minha vida de telespectador contumaz enquanto é tempo. Veja que coisa de louco: sempre que ligo a televisão vejo políticos que se dizem inocentes. Incapazes de cometerem qualquer delito por menor que possa parecer. Mas quando a desligo e abro os jornais, lá estão eles estampados nas primeiras páginas como beneficiários de propinas. Aí eu me desespero: será que sempre ligo a televisão no canal errado? Em verdade, confiro-o para me certificar de que é o que quero, duas ou três vezes antes de acionar o maldito botão. Assim chego a uma conclusão absurda: estou doente, parece que todos os canais são iguais!
Por outro lado já estou com medo de que o meu nome apareça na relação de Janot, mas de antemão, lhes digo, sou inocente! Como escapei da Lista de Schindler por não ter nascido naquela época, espero por outro milagre, pois, pasmem, um dia fui candidato. Não que hoje eu queira ser um deputado ou mesmo um reles vereador. É que fui obrigado a votar em alguns destes que aí estão, por isso o medo da Lava Jato.
Sempre achei que não sei votar, nunca aprendi esse ofício. Nas escolas me falavam para dar o voto para o candidato que fosse honesto, íntegro e capaz, mas nunca me disseram como é que se faz para identificar o santo. Provavelmente eu tenha que me informar no posto Ipiranga.
Estou tentando pular de algum lugar para ir a óbito e não mais votar, acho que esta é a melhor opção no momento. Talvez as torres do Senado Federal sejam um bom lugar, por formarem um conjunto aparentemente sagrado... lindo de morrer! Mas antes que isto aconteça, quero os meus direitos de volta.
Espero que um dia o voto tenha realmente valor e eu possa dizer antes de morrer... votar é preciso!