A REALIDADE DO APOSENTADO

A REALIDADE DO APOSENTADO

{{tirado do livro A BESTA, página 136, dos escritores

ANDERS ROSLUND e BORGE HELLSTROM}}

Após trinta e cinco anos, ele deixa a empresa onde sempre trabalhou. É quando vai perceber que os amigos com os quais estivera junto diariamente eram amigos de café, amigos-para-falar-do-chefe, amigos de apostas coletivas em jogos de loterias. Não mais que isso. Ninguém telefonara ou o visitara desde então. Ele próprio também não o fazia, não visitava ninguém, nem na empresa nem em casa, nem sabia direito se sentia falta deles.

Estranho, pensava, a gente passa uma vida inteira junto com as pessoas que não nos importam e das quais não precisamos, pessoas que são como uma televisão ligada num canto da sala. Na realidade é um ritual; de costumes, onde se esconde o vazio e o silêncio. Elas se refletem, de forma que você pode ter certeza de que existe, mas elas não têm importância nenhuma. Nem para você nem para todos os outros. Você desaparece e de repente não existe mais, enquanto todo o resto simplesmente continua lá. No trabalho eles misturam os ingredientes e preenchem suas apostas na loteria e riem alto durante o café, na copa; e parece que você nunca existiu.

Quando na realidade sua família, mais especificamente sua esposa, é que estará junto de você, na aposentadoria, segurando sua mão no envelhecer.