NEM ANJO NEM CÃO
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Da elevação de alma à deplorável existência carnal lançada na sarjeta, na mais enlameada degradação. Veneno e contraveneno coexistem numa única experiência. Viver é perigoso. Corrupção e integridade se fundem e se confundem potencialmente. Guerra e paz, amor e ódio. Dona Beija de Araxá, “ela ama, ela odeia, mas não sei se é feliz...” O ser humano, quem o há de entender? Elevado às raias do sublime, alça voos de águia. Invoca as Musas e Apolo e,ao mesmo tempo, estigmatiza-se ferido pela Flecha do Destino. Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra gravada e a oportunidade perdida.
A culpa não é toda do sistema. Aliás, quem cria o sistema e o reforça são os homens, somos nós. Grande parte de nossa população vive sofrendo, literalmente “chorando e gemendo neste vale de lágrimas”, e muita coisa poderia ser feita em seu favor. Quando penso no custo de um parlamentar, por nossa conta, fico estarrecido. Nesse ambiente de gastos públicos, como sobrar dinheiro? No entanto, nos horários políticos “obrigatórios” os discursos são todos de austeridade, palavra que significa inteireza de caráter, severidade, rigor. Uma farsa institucionalizada. Por que tanta corrida ao loteamento de tantos ministérios e de tantos altos cargos públicos por parte de tantos partidos e de tantos parasitas do poder? O Brasil é dos políticos...
Ninguém tem conduta ilibada. Ninguém está imune ao vírus da corrupção. Portanto, o que aqui é dito vale para uma comum reflexão, pois dentro de nós se digladiam um anjo e um cão, um santo e um pecador, verdades e inverdades, justiças e injustiças, vergonha e pouca vergonha. Construímos casas na areia, areia movediça, e armazenamos nossas reservas morais em vasos de barro, frágeis e quebradiços. Vivemos permanentemente construindo e desconstruindo a história. Agentes e pacientes, ação e paixão... Quem passou pela vida e não se condoeu passou pela vida e não viveu.