Da titular, licenciada, ao em exercício (28)

Miguel Elias,

não podes imaginar minha felicidade ao receber a informação - acompanhada de imediata e eficaz ação - para enxugar o meu staff presidencial. Só as despesas de cafezinho então já são um passo significativo no controle de gastos, hoje tão vastos e nunca bastos, da União. Demais, em meu dourado e alvorado repouso, o que mais quero é tempo para a reflexão, umas leituras de auto-ajuda e até mesmo uma imersão religi(g)osa. Andei muito afastada do Criador, com esses capetas rubros à minha volta.

Ando esperançosa agora ao ver noticiado que Eronildes irá explicar sua decisão de voto aos seus pares na Comissão de Ética. Um alívio para todos nós. E guardar para si a angústia, só poderia ocasionar numa úlcera, ou cousa pior. Se há sapos que não se engolem, imagina então pererecas de plantão?

Outra alegria de igual porte, é saber que não te incomodas com minha eventual aparição na abertura dos Jeux Olympiques, no Rio de Janeiro, que se aproximam vertiginosamente de nós. Prometo lá ir sem a faixa ou a faixina presidencial para não ofuscar-te o brilho. Aliás, meu querido, a despeito de tua nata elegância sartorial, temo - e temer não é crime - que estejas em processo de acúmulo abdominal, em fase inicial, inobstante. Urge recorrer a um bom profissional da área para evitar que isso venha a afetar a tua postura imperial.

Se quiseres, converso com a Google do Alvorada a respeito, antes que ela aqui conclua sua missão e limpe suas gavetas digitais. Sabe de tudo esse tesouro de minha maturidade. Deverá ir-se com o Bessias que, temo, fará nesta data a derradeira entrega de correspondência, justamente para ti. Só não desejo abrir mão do Catalão, mas se for para o bem da Nação, rompa-se o grilhão.

Que frio danado este! Antes de ir passar o período das quadrilhas no Nordeste, farei uma fondue, chez moi, que não haverás de perder. Coisas em que meto a mão, até ao mais empedernido vilão, abrem o coração.

Lograste vaga em escola da capital para o petiz? Os custos delas estão pela hora da morte e a sorte será se ele não for acostumado ao consumo de feijão cujo consumo virou hoje ato de ostentação. Por falar, tou pra ver agora um clássico do cinema: Arroz amargo. Conto com tua companhia?

Küsse, Didil

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 14/06/2016
Reeditado em 18/06/2016
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