O OFÍCIO DE LER
VOCABULARIO
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“ENCHER A CARA” - Beber demasiadamente até perder o controlo de si mesmo.
“TCHUNA BABY” - Calção muito curto capaz de levar os homens à excitação.
"COLÃ XUXUADO" - Veste elástica que marca muito notavelmente a vagina.
“CACUNDAR” - Levar às costas.
“MANDUCAR” - Saborosas de se comer
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É preciso cultivar a extensão do terreno da mente humana, é nela onde se processa a germinação dos frutos mais lindos desta caminhada a que designamos vida.
A humildade, o amor ao próximo e a si próprio, a caridade, enfim, são as flores que ali nascem graças ao bom trabalho das mãos do cérebro do bom jardineiro do jardim da mente humana. Se a terra não for bem trabalhada, provavelmente não dará bons rebentos e os espinhos nascerão sem rosas que por sua vez poderão nascer sem o sabor do cheiro que lhes é peculiar, e as abelhas talvez deixem de as frequentar e quem sabe comecem a produzir um mel insonso ou até mesmo salgado.
Investir no cérebro humano é dos maiores bens que se possa fazer, afinal o amor só cabe no coração do homem que tem uma mente sã.
A impercetibilidade do “carpe diem” ou mesmo do “bonum puela/vinum laeticant cordem” seduzem e atacam de tal forma o homem desarmado que vive o hoje despreocupado com o amanhã e assim “enche a cara” até despejar-se ao chão e começa, e continua cada vez mais a deliciar-se das delícias da carne, do álcool e etc, assim os homem aos bocadinhos, pouco a pouco se transfigura e assemelha-se um pouco mais ao cão, ao lagarto, ao porco…já que o que o difere destes, é a faculdade de pensar, para alguns, claro. Nesta altura as diferenças passam a ser apenas a locomoção e o revestimento, ambos já não sonham.
Voltando ao início deste texto, o adubo da semente humana são a TV qualificada, a rádio séria, os jornais que falam as verdades do povo e para o povo; o adubo é tudo aquilo que como o Messias vem para servir.
Recomenta-se neste caso, (1) que a intimidade entre o homem e a cama (preguiça) não se prolongue até as 10H00 da manhã, para que em tempos da crise a pobreza não continue sendo a nossa maior riqueza e aprendamos a produzir mais riquezas do que ricos conforme a filosofia de Mia Couto; (2) que a TV e a rádio deixem de pregar o evangelho do “tchuna baby , colã xuxuado , da saia curta ” e etc. Mas que fundamentalmente, insisto, fundamentalmente, os órgãos de direito seduzam o seu povo para a invasão dos novos “ondjangos” da nova era da globalização, aos que chamamos mediatecas, bibliotecas, enfim, para que se permita a descoberta dos verdadeiros tesouros: OS BONS LIVROS. Só assim teremos sempre mudos eloquentes, surdos que ouçam, cegos que vejam e amputados que andem, já que os livros são sempre progenitores e parteiros de ideias sempre novas.
O homem ao perceber cada vez mais a necessidade de amar os livros e a leitura, perceberá que nunca está sozinho, embora muitas vezes isolado.
Ao longo da sua incansável caminhada de mãos dadas com os livros, perceberá melhor a importância da sua carta de condução ou passaporte, mais entenderá ainda melhor a imprescindibilidade do livro que lhe transformará num “louco autentico artista” capaz de perceber que o bem-estar não reside no dinheiro preso nos bancos eternamente sem sistema, nem nos carrões que desfilam misse nos palcos que ontem não eram esburacados e que “cacundam ” almas novas todos os dias. Mas que sobretudo entenda que a beleza dos corpos das letras, é mais linda que a mais esbelta entre as donzelas e que ler um livro pode ser um novo ofício onde o peregrino descobrirá que de facto tem sempre mais e mais necessidade de caminhar.
Este futuro novo ofício transformará o provador de obras “saborosas de se manducar ” num novo escritor de poesias, contos, cronicas…que poderão permitir cada vez mais o rebento de novos cérebros que poderão gerar cérebros novos.
Ler e escrever, livra o homem de muitas doenças o que é diretamente proporcional ao famoso adágio ocidental: “uma juventude que não lê é doente”.
Terminarei estas letras soltas, pedindo autorização para plantar na terra de cada cérebro que lê agora nestas linhas o famoso adágio de Mark Twain que no meu cérebro se abriga como o evangelho que toca o mais recôndito canto do coração do cristão: “um homem que não lê bons livros não tem nenhuma vantagem sobre o homem que não sabe ler”.