CHATO ALIENÍGENA
Os chatos convencionais, aqueles que fazem comentários desnecessários em horas impróprias e brincadeiras desrespeitosas, não estão sozinhos. Uma nova modalidade de chato está em expansão, o chato alienígena.
Alienígena porque ele não se parece, como o chato comum, com o estereótipo da pessoa inconveniente. Ele, o chato alienígena, não sofre de solidão, pelo contrário, é muito requisitado em seus círculos de amizades. Muitos sentem sua falta quando se ausenta de lugares que costuma frequentar regularmente, sentem falta da polêmica e do bom humor das divergências, dos abraços e carinhos.
Geralmente o chato alienígena não gosta das coisas que a maioria das pessoas gostam como, por exemplo, assistir programas de televisão em episódios e séries; programas de auditório e telejornais. Só assiste alguns documentários, principalmente sobre lugares desconhecidos onde a comunidade produz e consome sem ser oprimida. Ele não liga para convenções e protocolos, apesar de respeitar as leis e cumprir suas obrigações como cidadão.
De esquerda, o chato é contra a direita em qualquer situação em que ela se apresente. Defende a democracia e não se importa em falar isso publicamente, mesmo que a maioria discorde de suas ideias. É a favor de tudo o que a sociedade conservadora é contra. É a favor do aborto em casos específicos, contra a redução da maioridade penal, a favor da união civil homoafetiva; contra a pena de morte, é a favor das cotas raciais e sociais nas universidades, é contra o preconceito sobre qualquer aspecto e argumento.
No cinema aprecia filmes Cult, nas artes plásticas os pintores surrealistas; na música ele gosta de rock, jazz, blues, bossa nova e samba autêntico como o de Cartola e Noel. Na literatura sua preferência é por biografias de autores atormentados, e de artistas que fizeram alguma diferença no cenário mundial, como Bob Dylan; além de poesia russa e latino americana.
Não se interessa pelos esportes de um modo geral, futebol talvez, mas sem muita paixão. Jamais torceria por um time de massa com uma grande torcida, pois banalizaria o seu discurso e sua resenha seria diluída pela histeria de seus semelhantes. Torceria por um time de tradição e de torcida qualificada e suficientemente conhecedora da história e importância do seu clube.
Não tem como identificar a profissão do chato alienígena pelas aparências, pelas roupas e pelo cabelo, porque ele não dá ‘pinta’, é básico. Muitos arriscariam que seu trabalho é informal, ou que faça uns ‘freelas’ de vez em quando, mas também pode trabalhar no magistério ou com o meio-ambiente.
Muito apegado à família, principalmente aos filhos, considera o matrimonio uma convenção dispensável, mas importante até onde não se transforma em acomodação. Certamente se casará mais de duas vezes. Desapegado de bens materiais, não hesita em abrir mão de sua parte porque acredita no poder do retorno.
Sem religião, acredita em Deus e respeita todas as crenças, mas quando discute sobre isso sempre mostra o lado da não-doutrina para aprofundar a discussão pelo sincretismo. Se você conhece alguém assim, não o trate como um chato tradicional, porque ele pode ter algum conteúdo interessante.
Isto posto, agora leve-me até o seu líder!
Ricardo Mezavila.