Lendo a crônica de um grande poeta, Paulo Rolim, que retratava o seu jubileu natalício através da imagem de uma folha seca sobre o asfalto, pude viajar na história da minha vocação. No próximo domingo (19.06) ela completa 12 anos de ministério ordenado, mas são, ao todo, 19 anos de construção desta caminhada que não terá fim. Enquanto lia sua belíssima crônica, recordei de uma folha seca, guardada dentro de minha bíblia, que continha exatamente a data em que ela foi escolhida para me acompanhar por toda a vida.
Abri o armário de livros. Procurei apreensivo pela referida bíblia entre as demais e folheei com delicadeza. Lá estava ela. Seca, com suas ramificações em evidência e, bem ao centro, minha letra. A memória viajou ao ano de 1998, especificamente naquela manhã de 26 de novembro. Quase pude sentir o cheiro das folhas verdes que tinham caído do abacateiro sobre a quadra de esportes. A chuva que tinha banhado o solo na noite anterior exalava seu frescor com um aroma de terra molhada. Coisas da roça que quase não se percebe mais.
Era manhã de espiritualidade. Com meu terço na mão, escolhi aquele espaço para minhas reflexões. Rezava incessantemente para que Deus confirmasse minha vocação. Queria ser padre, mas minhas mazelas açoitavam minha consciência pueril. Encontrava sempre consolo no colo daquela que era minha mãe do céu. Uma outra Maria, tão bela quanto a que tenho em casa e que me gerou.
Sentado na mureta que contornava a quadra de esportes, sentia o calor do sol nas minhas costas e com a cabeça inclinada sobre os braços cruzados eis que uma folha, ainda verde me chamou a atenção entre as demais. Era vistosa. Com certeza se soltou na noite anterior e veio pousar exatamente naquele lugar. Pensei em sua trajetória. Longa. Ela continha tudo do todo. Trazia em si a essência da árvore que a gerou. Tomei-a nas mãos. Tinha um toque suave. Ainda úmida, sequei-a. Retirei do bolso minha caneta preta. Registrei a data e o que fazia. Levantei e comigo a folha seguiu por esses anos todos.
Hoje eu a revisitei. Foi mágico. Rezei o tempo daquele tempo e a gratidão preencheu meu peito. Hoje sei que a minha prece foi atendida e que a folha registrou no espaço um momento místico. Hoje eu li uma vida jubilar numa folha que insistia em permanecer em meio ao frenesi dos carros. Hoje eu vi que uma folha caiu em meu caminho há 18 anos e morreu para que eu brotasse. Hoje percebi que sou folha que cai no jardim dos outros, como a folha #deumpoetaqualquer para matar uns sonhos e despertar outros; para morrer hoje e ressuscitar amanhã.
Então peguei a caneta e registrei com minha letra essas linhas, para que um dia, morto em corpo, elas respirem por mim e talvez sejam colocadas dentro de um livro qualquer para serem lidas por poetas específicos – os que são sensíveis à vida.
Abri o armário de livros. Procurei apreensivo pela referida bíblia entre as demais e folheei com delicadeza. Lá estava ela. Seca, com suas ramificações em evidência e, bem ao centro, minha letra. A memória viajou ao ano de 1998, especificamente naquela manhã de 26 de novembro. Quase pude sentir o cheiro das folhas verdes que tinham caído do abacateiro sobre a quadra de esportes. A chuva que tinha banhado o solo na noite anterior exalava seu frescor com um aroma de terra molhada. Coisas da roça que quase não se percebe mais.
Era manhã de espiritualidade. Com meu terço na mão, escolhi aquele espaço para minhas reflexões. Rezava incessantemente para que Deus confirmasse minha vocação. Queria ser padre, mas minhas mazelas açoitavam minha consciência pueril. Encontrava sempre consolo no colo daquela que era minha mãe do céu. Uma outra Maria, tão bela quanto a que tenho em casa e que me gerou.
Sentado na mureta que contornava a quadra de esportes, sentia o calor do sol nas minhas costas e com a cabeça inclinada sobre os braços cruzados eis que uma folha, ainda verde me chamou a atenção entre as demais. Era vistosa. Com certeza se soltou na noite anterior e veio pousar exatamente naquele lugar. Pensei em sua trajetória. Longa. Ela continha tudo do todo. Trazia em si a essência da árvore que a gerou. Tomei-a nas mãos. Tinha um toque suave. Ainda úmida, sequei-a. Retirei do bolso minha caneta preta. Registrei a data e o que fazia. Levantei e comigo a folha seguiu por esses anos todos.
Hoje eu a revisitei. Foi mágico. Rezei o tempo daquele tempo e a gratidão preencheu meu peito. Hoje sei que a minha prece foi atendida e que a folha registrou no espaço um momento místico. Hoje eu li uma vida jubilar numa folha que insistia em permanecer em meio ao frenesi dos carros. Hoje eu vi que uma folha caiu em meu caminho há 18 anos e morreu para que eu brotasse. Hoje percebi que sou folha que cai no jardim dos outros, como a folha #deumpoetaqualquer para matar uns sonhos e despertar outros; para morrer hoje e ressuscitar amanhã.
Então peguei a caneta e registrei com minha letra essas linhas, para que um dia, morto em corpo, elas respirem por mim e talvez sejam colocadas dentro de um livro qualquer para serem lidas por poetas específicos – os que são sensíveis à vida.