SERÁ QUE A TIA FOI PRO CÉU...?
Tive eu uma tia-avó chamada Dulcinéia, que era nanica por subnutrição, caritó por não ter tido outra opção e que fazia bonecas de pano para vender na feira e com isso sobreviver.
Danadinha a tia Dulcinéia, pobre, porém deveras orgulhosa. Passava uma necessidade de não fazer inveja a seu ninguém, mas disso não se queixava, nem ao bispo, e até tinha lá as suas mutretas para ludibriar os vizinhos abelhudos; para não ser pega de surpresa, sempre perto da hora do almoço – que na maior parte das vezes não passava de uma “cabeça de galo” - mantinha sobre o velho fogão a lenha, duas panelinhas de barro com água fervendo, dando a impressão de que havia comida a cozinhar
Beata como ela só, era fita larga cor vermelha da Irmandade do Coração de Jesus e encarregada de passar a sacola onde os fiéis, na missa e nos demais atos litúrgicos depositavam as suas contribuições para ajudar o santo papa, o padre da paróquia e as obras inacabadas da igreja. Diziam as más línguas que no final da coleta a tia Dulcinéia repartia as moedas: uma pra igreja e duas pra Dulcinéia.
Embora reconheça a tentação e o estado de miserabilidade da tia, sou mais pela sua honestidade. Se pecado ela cometeu foi contra São Sebastião, com quem tinha lá suas intimidades, e se fiando nisso, vez por outra, nos momentos de mais aperto, ela retirava do seu oratório a imagem do santo, colocava dentro de uma caixa de sapato forrada com um pedaço de cetim roxo, enfeitava com flores de papel crepom, envolvia com uma fita vermelha e saía de casa em casa pedindo uma ajuda pro dito. O arrecadado tomava por empréstimo, jurando de joelhos diante da imagem, logo que as bonequinhas fossem vendidas, ela devolveria em dobro.
Morreu velhinha a tia Dulcinéia. Quem a matou foram às bonecas, espetando o seu dedinho nanico com uma agulha enferrujada. Foi encontrada toda enrijecida com as perninhas pra cima feito um passarinho morto.
Será que a tia foi pro céu...?
NOTA: No oratório da tia Dulcinéia, aos pés da imagem de São Sebastião foi encontrada uma pequena sacola cheia de moedas.
Tive eu uma tia-avó chamada Dulcinéia, que era nanica por subnutrição, caritó por não ter tido outra opção e que fazia bonecas de pano para vender na feira e com isso sobreviver.
Danadinha a tia Dulcinéia, pobre, porém deveras orgulhosa. Passava uma necessidade de não fazer inveja a seu ninguém, mas disso não se queixava, nem ao bispo, e até tinha lá as suas mutretas para ludibriar os vizinhos abelhudos; para não ser pega de surpresa, sempre perto da hora do almoço – que na maior parte das vezes não passava de uma “cabeça de galo” - mantinha sobre o velho fogão a lenha, duas panelinhas de barro com água fervendo, dando a impressão de que havia comida a cozinhar
Beata como ela só, era fita larga cor vermelha da Irmandade do Coração de Jesus e encarregada de passar a sacola onde os fiéis, na missa e nos demais atos litúrgicos depositavam as suas contribuições para ajudar o santo papa, o padre da paróquia e as obras inacabadas da igreja. Diziam as más línguas que no final da coleta a tia Dulcinéia repartia as moedas: uma pra igreja e duas pra Dulcinéia.
Embora reconheça a tentação e o estado de miserabilidade da tia, sou mais pela sua honestidade. Se pecado ela cometeu foi contra São Sebastião, com quem tinha lá suas intimidades, e se fiando nisso, vez por outra, nos momentos de mais aperto, ela retirava do seu oratório a imagem do santo, colocava dentro de uma caixa de sapato forrada com um pedaço de cetim roxo, enfeitava com flores de papel crepom, envolvia com uma fita vermelha e saía de casa em casa pedindo uma ajuda pro dito. O arrecadado tomava por empréstimo, jurando de joelhos diante da imagem, logo que as bonequinhas fossem vendidas, ela devolveria em dobro.
Morreu velhinha a tia Dulcinéia. Quem a matou foram às bonecas, espetando o seu dedinho nanico com uma agulha enferrujada. Foi encontrada toda enrijecida com as perninhas pra cima feito um passarinho morto.
Será que a tia foi pro céu...?
NOTA: No oratório da tia Dulcinéia, aos pés da imagem de São Sebastião foi encontrada uma pequena sacola cheia de moedas.