O VELHO PATRIOTA

O Velho Patriota

Tum, tum! Tá ra rá!

Tum tum! Tá ra rá!

O barulho da fanfarra cada vez mais alto o fez despertar para um novo dia. Data muito especial. Sete de Setembro! Seu feriado preferido! Toma o café às pressas e logo chegaria à avenida, bem perto dali onde já iniciara a parada.

Dispensara alguns convites para passeios e viagens. Não ficaria sem assistir ao desfile cívico em comemoração à independência de sua pátria, a mãe gentil! Jamais a decepcionaria, por questão de honra. Com chuva ou sol, aquilo era sagrado, enquanto pudesse andar, estaria lá.

Desde menino fora tocado pela causa patriótica e moral. Tirava as melhores notas nessa matéria, a predileta. Sonhava em sair na banda escolar, mas como bancar o uniforme? E principalmente o instrumento de percussão necessário? Seria querer demais. Sempre praticava alguns toques em tambores improvisados por latas. Tinha certeza, um dia chegaria a sua vez!

Contentava-se ao ver os colegas afortunados ostentarem os belos trajes, peculiares para a solenidade cultural da semana. De calça caqui, emprestada do felizardo primo que sairia tocando um “tarol” e camisa branca, feita com esmero na última noite pela mãe, ainda com o cheirinho de goma de passar, completava junto a um par de congas preta o seu fardamento. Desfilaria em outro pelotão, sem atrativos e alegorias festivas, mas com bastante entusiasmo. Marcharia certinho, acompanhando o ritmo de passo certo e de peito erguido.

Na avenida quase não consegue um lugar ao sol, as “suas costas” como era de costume, para avaliar cada formação, conferir a desenvoltura dos movimentos da ordem unida, coisa que aperfeiçoara na prestação do serviço militar nos anos idos, onde enfim teve realizado o desejo de fazer repicar um instrumento de verdade.

Agora, já reformado, tem a felicidade de proporcionar a um garoto vizinho, de família humilde a mesma emoção, apadrinhando-o com um vestuário, e um instrumento de sua aspiração, tornando agora possível a realização do sonho de uma criança.

Os militares, como de praxe, fecham o desfile com perfeita apresentação. De olhos vermelhos pelas lágrimas secadas, com a sensação do dever cumprido, caminha em direção a sua casa de alma sossegada, ainda deslumbrado pelo som de surdos, bombos, caixas de guerra e repiques, na cadência sonora, de corpo e coração. No compasso perfeito de um...

Tum Tum! Tá ra rá!