Se que não vai Adiantar.

Sei que não vai adiantar, que a creche vai entrar em recesso por falta de merenda, que não tem nem aspirina no Posto de Saúde, que o cacete vai cair no lombo da malandragem, que nos bairros acima da avenida Yoshi Nomiyama sequer existem placas informando os nomes das ruas, que os números são desordenados, que está tudo esburacado, tudo errado, que o prefeito foi preso, que a Defensoria Pública não paga os honorários dos advogados inscritos no Convênio da Assistência Judiciária, que o desemprego prostra as pessoas e as amolece caídas nos asfaltos quentes, que proliferam botecos, prostíbulos e traficâncias, que não existem indústrias, que a Usina está demitindo funcionários, que plantaram cana em torno da cidade e atearam fogo em tudo, que helicópteros da polícia sobrevoam feito urubus sobre a carniça e que a bandidagem e a criminalidade é crescente...

Sei que logo os carros de som virão acordar as crianças e atrapalhar os doentes e os trabalhadores anunciando candidatos à roubalheira, que sujarão a cidade com santinhos e mentiras deslavadas. É, eu sei.

Sei que não vai adiantar eu ficar aqui resmungando sentado diante esta tela morna e teclando feito louco em redes sociais, e que muito menos haveria alguma solução se explodisse tudo, sei disso. Nada vai adiantar!

Sei também que não vai adiantar mandar homens à Lua sabendo que milhares morrem de fome diariamente aqui na Terra, que os satélites sobrevoam suas cabeças enquanto a desesperança e o vazio compõem o seu conteúdo, e que os hospitais estão atulhados de doentes sem medicação, e que a vala comum convida as pessoas para um repouso eterno.

Sei que de nada vai adiantar virar andarilho, tentar a vida em outra cidade, outro Estado, outro País, outra ilha ou mesmo caçar ouro na Serra Pelada.

É uma cidade linda!

Sei que não vai adiantar interpor dezenas de recursos para livrar o cidadão da cadeia se seus antecedentes criminais são mais volumosos que um vade mecum 2016 atualizado e comentado.

É! É soda cáustica! É dose dos diabos!

Sei que é matéria infausta, que a gangue dos balanga-beiços vai falar, que vão azucrinar e tentar distorcer as idéias dos néscios. Por essas bandas a verdade vira mentira e vice-versa. Aqui a matéria é perversa!

É uma grande cilada!

Sei que a bateria vai esgotar, que tudo vai despencar.

Mas vamos vencer! Somos humanos! Fortes! Sobrevivemos a tempestades e desertos. Somos seres espertos. Congelados, envenenados e queimados durante os tempos, ainda estamos aqui.

Sei que 'la crise e la guerra' são raposas vorazes e mastigam as pessoas no meio fio...

É, eu sei que não vai adiantar, mas parado é que não posso ficar!

Por isso escrevo estas palavras tristes e digo amem!

Amem o próximo, não o produto!

Amém!