Encontros e desencontros

Um sorvete que não descongela. Um feijão que não estraga. Um vinho que não saí da adega. Um almoço que nunca é em casa. Um endereço que não existe. Uma rua, beco, viela.

Um encontro cheio de desencontro. Um livro emprestado sem data de entrega, com uma continuação inexistente. Tudo sobre ela.

Uma irmã que não tem o meu sangue, e há de quem comente que não seja.

Um carrinho que não mais anda, um rolamento que só emperra. Sem contar aquela bicicleta que seria entregue segunda - feira, mas nunca chega.

Uma maquiagem resistente a tudo, caso tu não deixe a quase caçula vê-la.

Ahhh e aquele bolo acompanhando um sorriso com cobertura de maracujá, me manda o endereço, eu sei que vai levar um tempo e se for se mudar me avisa.

Mais um litro de vinho na adega, e uma bela morena como companhia.

E aquela cerveja que nem se quer saiu da geladeira, nem mesmo a caipirosca da minha tia fora pronta, há um bom tempo.

E haja cigarro pra contar história, numa pausa que nunca acaba, um cliente que não cala a boca, mas, uma amiga para dar risada.

Em meio a tudo só me resta lhes dizer: ahh a saudade derreteu faz tempo, mas a embalagem me faz lembrar de você. O feijão está embalado com nosso último abraço. O vinho não me embriagou, muito menos me fez esquecer. Enquanto houver casa, o almoço continuará na nossa agenda, mesmo sendo num beco sem saída. O muro, a gente pula.

O desencontro, deixe isso pra lá, quem sabe o acaso nos encontra.

Posso não ter mais o livro, mas nunca esquecerei a história.

Foi uma discussão, um texto enorme te falando que seria o último, mais uma ilusão do coração, irmãos brigam e voltam a se falar como se nada tivesse acontecido.

Mesmo que o carrinho fique velho, que nós não fiquemos enferrujados.

Sim, a bicicleta, vou mudar o dia. Quem sabe chegue na terça - feira.

Menina deixe esse baton de lado e arranje um namorado que te faça ver a beleza natural que há em você.

Lhe peço desculpas pela demora, espero que a massa do bolo não fique velha e que nem o maracujá acabe feito limão, caso isso aconteça pode deixar que eu levo o açúcar e a gente faz uma caipirosca, com a receita da minha tia.

Não tira a cerveja da geladeira, qualquer dia desses eu apareço, o importante é que não esteja quente.

Que a fumaça que sairá de tantos cigarros tragados outrora nos deixe ver as lembranças que jamais se apagam.

J. Andrade