Desapegos...
Eu possuia verdades que me destruíam, verdades que reconhecia como nocivas e por isso não as queria; verdade que me foram impelidas pelas escolhas pretéritas de minhas tantas vidas, verdade cujo desapego não as faziam de mentira e parecia impossível me livrar, mas esse era o erro, desapegar consistia em entender, em destruir para refazer e de bom grado aceitar, pois essa verdade era a unha de deus rasgando minha carne, desejoso em se aprofundar em minha essência; verdades cuja matéria prima moldava minha alma, minhas dores e meus alívios.
Mas, mesmo com as batalhas da vida, as loucuras das sobras das eras vividas, no barulho da mente que nunca descansa existia um espaço escuro onde não havia nada de concreto e absoluto, não como quem desiste, mas como quem abre mão do absoluto, sai da luz ao mesmo tempo que fiquei na luz, deitei na escuridão e me soltei nos eons ocultos da matéria escura, e como o homem mais simplório do universo eu me fiz onipresente... Quem meditava no vácuo, quem dançava nas partículas luminosas e quem, de algum lugar, não estava em lugar algum, mas podia observar.
Sem prever já não possuia verdade alguma, já não valia tanto os caminhos e descaminhos, era um verter de etapas, uma verdade única que não era só minha, já não era pessoal, era de toda terra, de todo cósmico, do físico e do astral... Não havia mais nada comigo, nem meus tantos "eus"e nem os "eus" de meus amigos.
Mas para ser, hoje de uma forma que nunca fui, eu deixei ir tudo o que fui e tudo que era no instante que me entreguei para minha alma, que me fazia tremer de medo, voraz e impulsiva fera, toda ferida, sozinha e vaidosa em uma triste e estranha espera...
Para hoje estar aqui e saber que o doravante está no exato momento onde arquiteto um simples movimento e simplesmente existir, eu tive que me deixar cair ao mesmo tempo que subia, andei no charco dos derivados cruéis da glória, ao mesmo tempo que nas vestes da sacerdotisa, a beira de um rio, eu banhava a minha alma e retirava de nossas almas as nódoas... Eu tive, em curto tempo terrestre, muitas verdades, para que aceitasse uma única verdade: O "ser" não é absoluto, não tem sexo, não possuí nação; não tem um nome e identidades são momentos... O "ser" não possui passado, não está no presente e é superior ao futuro, pois mediante o "ser" o tempo é apenas constante da equação de sua transmutação... O "ser" não vive apegos, pois vive em constante evolução e os caminhos e descaminhos são compreendidos como a necessidade que lhe é a força motriz de seu motor... O ser nada disso possui, mas nada disso renega, pois nomes lhe foram emprestados e cada vida é um pixel de sua atual imagem, e mesmo atemporal permita-se ao correr das eras, pois o tempo é a estrada estendida no espaço... Onde o "ser" cumpre seu papel que é existir! Existir não é complicado quando se compreende átomo desse complexo e singular estado.
As necessidades do "ser" existir é de guarda de mistérios ainda insondáveis, e nessa dimensão limitada torna-se a emoção da busca... E foi onde todos nós nos perdemos, na busca pelo o que sabemos, mas longe de nosso "ser" não compreendemos, e nas tantas camadas onde existimos é nessa camada densa onde sentimos mais e isso explode na necessidade de suprir algo que não entendemos. O "ser" torna-se o ter, e nos ferimos na busca por amor, por paz, por poder, por qualquer coisa afague o sentir de posse... E no fim, nossa gana é uma saudade incompreendida, não do que passou, ou de um amor, ou de um lugar, é a saudade do que somos e não encontramos, pois a zina na conquista nos leva para longe da profundidade de nossas almas, temos saudades do "ser" do deus que habita em nós e procuramos fora.
O que ainda me espera nesse trecho de estrada que compõe parte de uma verdade que se monta na totalidade do espaço onde habitamos?
Eu não sei... Só sei que sou, e posso não compreender, mas só saber disso, já me silencia diante a transitoriedade e as etapas do existir.
L. Thoreserc