Discordo, divirjo e discrepo

Com certeza se o tempo voltasse não faria algumas das molecagens que protagonizei no passado, no tempo que era metido a empata-samba, inclusive essa fase durou até os quarenta e poucos anos. Parte dessas armações cometi em reuniões que compareci contrariado. Sempre detestei reuniões e solenidades.

Tem mais: a mim nao importava se iria contrariar a direita, esquerda, o centro ou o escambau. O que visava era a chatice desses eventos.

Foi o que aconteceu numma conferência na câmara de vereadores da minha terra. Trouxeram um tal grande conferencista para falar sobre a "Redemocratização". era um sujeito afamado, não recordo do nome dele, mas era figurinha comentada na imprensa, um cobrão, e como tal muoito chato. Detesto, repito, solenidades e conferência encabeça a lista. Mas aí como o banco foi convidaadoa mandar representante, o gerente, amigo meu, de pura sacanagem me escalou como representante. Fui quase obrigado.

Fiquei quase nas últimas cadeiras, estava de chinelo, bemuda e camisa de meia.e todo mundo de terno, paletó e gravata, as mulheres com aquele vestido de domingo e como fazia muito calor a maquiagem desmanchando nas caras. Bom, o "cerimonialista" (um cara chatíssimo) passou uma meia hora ou mais lendo o currículo do conferencista, era doutor, tinha mestrado disso e daquilo, eses, livros publicados (daqueles que ninguém lê) e até, pasmem, curso em Harvard. Depois dessa chatura, o dito cujo foi pra tribuna, impecavelmente vestido, com uns oclinhos tipo John Lennon, mas fundo de garrafa, e começou a cuspir e vomitar chateação, citando muitas fontese focou durante muito tempo na influência do IBAD na "revolução de 64". Passou mais de duas horas cagando sapiência.Quando terminou avisou que estava aberto para perguntas, aí botaram um micofone no "plenário" para os pobres mortais fazerem perguntas. Ninguém ousou, o cara ficou meio chateado, balançando a cabeça, acho que pensouem fazr a conclusão dando uma espinafração na platéia matuta. Não aguentei, levantei a mão e trouxeram o microfone. Dei uma tossidinha, disse alô mamãe, e comecei com uns sinônimos que usava para sacanear os outros quando discordava de algo (se fosse no tempo do programa que Francisco MIlani dizia, "há controvérsias", eu teria usado esse mote): - Discordo, divirjo e discrepo - comecei - do ilustre falador, quando criticouo IBAD, ealmente foi criado para ajudar o golpe militar,mas não diga, bicho, que anão serviu para nada. É uma inverdade. Por exemplo: para mim e minha familia foi de muita serventia. Olhe, ele editava umas revistas anticomunistas que eram de papel de luxo, liso,essas não serviam mesmo para nada, mas no final da campanha de Arraes em 1962, editaram acho que mais de um milhão de cartilhas contra o candidato. Um certo dia estavaem casa quando chegou m amigo que era vigia da sede do IBAD em Arcoverde, trazia na mão a cartilha e me entregou, já fui ficando com raiva, pensando que era sacanagem, mas ele explicou, mandando que eu pegasse nas páginas da caretilha e amolegasse, realmente anao eram lisas, mas tipo papel jornal do bom. O cara disse que a sede estava entupida dessas cartilhas e que já tinha levado uma porrada delas para casa para usar como papel para limpar o fiofó. E peguntou se eu não queria um lote delas para esse uso. É lógioco que quis. Naquela época a gente limpava o cu (disse a palavra cu) com papel de jornal que era cortado em quadradinhos e colocado num prego na parede do sanitário. Olha, bicho, levamos várias carroças da cartilha e colocamos num quartinho que havia no muro. Pssamos um tempão limpando o cu (repeti a palavra)com a cartilha do IBAD, como é que você vem e diz que o IBADnão serviiu para nada? É uma injustiça. Em vez das pessoas me recrinarem começarama a rir, a risadaria foi geral, a conferência estava prejudicada. O cabrinha juntou seus papéis, deu boa noite puto da vida e foi embora. Nooutro diaas pessoas começaram a me chamar de conferencista. Virei sucesso. Mas não repetiria essa molecagem. De jeito nenhum. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 10/06/2016
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