Diabolicamente genial!
Esse texto não é meu, que isso fique bem claro. Chegou às minhas mãos sem a devida autoria. Por ter achado interessante, publico-o aqui para compartilhar com os caros leitores do Recanto. Tenho certeza de que vocês também irão gostar.
Separação amigável...
Ela passou o primeiro dia empacotando todos os seus pertences em caixas, engradados e malas. No segundo dia, os homens da transportadora fizeram a sua mudança. No terceiro dia, na sala de jantar, pôs pra tocar uma música suave e se aproximou da bela mesa, puxou uma das cadeiras de espaldar acolchoado e se sentou. À luz de velas ela sorvia um Chardonnay e saboreava petisco de camarão besuntado no caviar. Examinou a sala com olhar atento e, quando a música terminou, levantou-se tranquila e arrumou a cadeira em volta da mesa, delicadamente. Aproximou-se da janela e, valendo-se de uma escada, colocou cascas de camarão recheadas com caviar na cavidade oca do varal das cortinas, em cada um deles, um a um, nos vários aposentos, todos, começando pela sala de jantar. Por fim limpou a cozinha e partiu, sem olhar para trás.
Quando o ex-marido chegou com a namorada e ocupou o imóvel, tudo estava perfeito nos primeiros dias. Pouco a pouco, no decorrer da semana, a casa começou a cheirar mal. Para se livrar do odor desagradável os dois tentaram de tudo: limparam, lavaram e arejaram as dependências; os tapetes foram submetidos a uma limpeza a vapor; todas as aberturas de ventilação foram verificadas a procura de possíveis ratos mortos; cápsulas de desodorante foram colocadas nos vários recintos para melhorar o ar ambiente... Ainda na luta contra o fedor insalubre que piorava a cada dia, uma empresa de dedetização fora contratada para executar serviço completo no edifício e, por causa dos produtos químicos utilizados pelos operários, o casal foi obrigado a se ausentar por alguns dias. De volta ao lar constataram que o cheiro nauseabundo continuava impregnado em todos os cômodos. Finalmente substituíram o caríssimo carpete de lã. Foi mais uma tentativa fracassada. O cheiro fétido parecia entranhado nas paredes. A empregada começou a sofrer náuseas, demitiu-se. Alguns consertos e pequenos reparos necessários na manutenção da propriedade deixaram de ser feitos devido ao péssimo odor de coisa podre que exalava ao redor. Os operários da empresa contratada se recusaram de trabalhar em meio ao cheiro nocivo. Amigos e parentes não vinham mais visitar o casal...
Sem conseguir descobrir a fonte do aroma deletério que contaminou a construção, patrimônio tão bem conservado, eles decidiram colocá-la à venda e se mudar; já estava impossível de respirar o ar no interior do imóvel. Um mês depois, apesar de terem reduzido o valor cobrado inicialmente pela metade, não apareceu ninguém disposto a tirar proveito da pechincha e ficar com a casa fedorenta. A notícia se espalhou, por isso, nem mesmo os corretores locais tiveram interesse em intermediar a negociação daquela residência. Sem desistir da venda o casal foi ao banco e financiou a compra de uma morada nova.
Curiosa mas sem demonstrar seus sentimentos, a esposa ligou para o ex-marido. Queria saber das novidades no seu novo relacionamento e da vida no velho domicílio. Como pretexto pela ligação voluntariosa informou que estava previsto ser julgado, em poucos dias, o processo de separação deles dois, em andamento na justiça. Perguntou-lhe se estava ciente. Ele não desconfiou de suas intenções e respondeu que sim. Inocente prolongou a conversa informando que estava de mudança, mas não expôs seus motivos e omitiu os problemas. Ela sabia de tudo, nem era preciso comentar. Deliberadamente serena disse que sentia muita saudade do seu antigo lar – único bem excluído da demanda judicial por motivos jurídicos. Gostaria de ficar com o prédio, de poder voltar a morar na velha casa e para isso estava disposta a fazer permuta com alguns dos bens que lhe caberiam na partilha, desde que houvesse interesse mútuo. Convencido de que ela não tinha conhecimento do cheiro insalubre que infectou a residência, transformando-a numa habitação inabitável, ele estipulou o valor do imóvel em 1/3 do valor de mercado e propôs-lhe a compra, com uma condição: a partilha de bens continuaria em processo separado, sem alteração, e a transação da moradia deveria ser efetivada naquele mesmo dia.
O preço estipulado era praticamente uma doação, irrecusável. Mantendo a postura impassível de sempre ela evitou questionar o motivo da bagatela e concordou de imediato. Em poucas horas de negociação já estava de posse dos documentos corretamente datados, devidamente assinados, irrevogavelmente registrados em cartório. Doravante, a casa lhe pertencia exclusivamente.
Uma semana depois, o homem e sua namorada, ambos com um sorriso malicioso no rosto, assistem aos operários encarregados de fazerem a mudança empacotarem todos os móveis e utensílios que lhe couberam na partilha. Bens que estavam sendo levados para compor a mobília e decorar a mais nova e linda residência do novo casal, inclusive os varais das cortinas, TODOS.
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PS: Se você, que acabou de ler essa narrativa, souber o nome da autora ou do autor desse texto, informe-o no comentário logo abaixo. Terei enorme prazer em fazer a justiça devida e dar o mérito a quem de direito.