A CRÔNICA DE UM CARNAVAL DESTRONADO
A CRÔNICA DE UM CARNAVAL DESTRONADO
Sônia Sobreira
Em silêncio, contemplo a multidão agitada. Tento ficar bem perto dos folióes. O brilho das fantasias é deslumbrante! Tudo parece belo e perfeito. Os rodopios dos passistas, a jinga das mulatas lindas, a cadência contagiente do samba, os confetes e serpentinas cortando o espaço e o fascinio dos carros alegóricos.
Observo ainda mais de perto os foliões: Descubro que o olhar deles não combina com o sorriso, mas só quem quem está bem perto, pode perceber esta realidade: "Um sorriso disfarça uma lágrima."
Carnaval! tradição, folclore, volúpia, império da carne, ou trégua de três dias para suportar a dor, a mágoa, as dívidas e o medo que fatalmente voltarão na quarta-feira de cinzas.
Carnaval, louca ilusão! Quantos sonhos desfeitos, quantos corações partidos e feridos! É belo,muito belo, não se pode negar, mas sua beleza é cruel e enganosa, não poupa aqueles que procuram esquecer os infortunios, buscando nele, um prazer efêmero e escorregadio. Carnaval! Rei Momo destronado que não cuida dos seus súditos, que rouba a inocência e estufa o seu ventre com as desiluzões dos seus escravos. Carnaval! hiena que em gargalhadas, fareja a carne dos que morrem com um sorriso nos lábios e uma lágrima no olhar!