Quem é Tom Cruise????
Não é fácil perceber que o tempo está passando e você, envelhecendo. Mas de vez em quando alguma situação nos obriga a encarar o triste fato. No meu caso, foi a minha sobrinha de 11 anos.
Estávamos na sal, vendo TV, quando por algum motivo que não lembro no momento eu citei o nome de Tom Cruise. De imediato ela me questionou: - Quem é Tom Cruise??? Nunca ouvi falar! É um ator?
E como um pedrada na face e um balde de álcool em cima de um corte exposto, eu recebi a inquisição. Passei pelas três fases do estado de choque – raiva, negação e aceitação – antes de reagir. Como??? Você não sabe que e Tom Cruise??? Como e possível???
Nem perdi tempo em explicar que ele era um dos homens mais lindos do mundo, que povoou as minhas fantasias – e de milhões de adolescentes como eu – e que mesmo hoje, aos 45 anos, continua lindamente insuperável (e ainda me causa frisson!). Tampouco me dispus a falar do fantástico (e brega, admitamos!) Top Gun – Ases Indomáveis (1986- taking our breathing away....), do saboroso Rain Man (1988 - que sempre vale a pena assistir). O meloso Cocktail (1988) e dos interessantes Nascido em 4 de Julho (1989) e Questão de Honra (1992). Sem falar no simpático Jerry Maguire (1996) e na triologia inverossímil Missão Impossível (1996, 2000 e 2006).
Como explicar isso para uma pré-adolescente que há dois anos idolatrava o grupo hispânico Rebeldes – espécie de Dominó do novo século, iconizado no Brasil através de uma novela homônima, mexicana- e que hoje suspira por Captain Jack Sparrow (leia-se Johnny Depp em Piratas do Caribe) e um tal de Troy (entenda-se Zac Efron no High School Musical).
No meu tempo (a gente só percebe mesmo que está envelhecendo quando começa toda sentença com “no meu tempo...”), eu cultuava filmes mais velhos que eu; sabia que eram James Dean, Elvis Presley e Bette Davis, mesmo eles tendo falecido eras antes da minha adolescencia. Adorava ver filme de faroeste e ouvia na rádio músicas dos eternos Beatles. Era comum, ate vinte anos atrás, as rádios e emissoras de TV cultuar ídolos do passado; eles eram uma espécie de exemplo para quem estava chegando; ícones para quem quisesse fazer história, como eles. Não vivi a revolução cultural do Brasil, no fim dos anos 60 e inicio dos anos 70 (a propósito, nasci em 73), mas sentia na pele as agruras de uma vida sob pressão política e a falta de liberdade de expressão. Era como se eu estivesse lá... como se eu fosse um daqueles jovens rebeldes, lutando por um mundo melhor... mundo que eu desfrutei duas décadas mais tarde... Mas hoje, os adolescentes não sabem nada que tenha acontecido há mais de cinco anos. É como se memória cultural estivesse encurtando cada vez mais. Os ídolos de hoje são cada vez mais descartáveis, e o mundo está confortável com isso. Uma musica já não passa mais de geração para geração, mesmo sendo uma boa musica. O mesmo acontece com livros e filmes. Ufa!! É lamentável! Acho que o mais duro não foi constatar que o tempo passou para mim, mas sim que a nossa geração não conseguiu nem entrar para a história e deixar legados culturais!