Destino em aberto

Dentre as mazelas sociais que mais me chocam está a situação dos moradores de rua. Aliás, eufemismo chama-los assim. Mendigo é ofensivo. Questiono-me se ofensa não é a situação desses esquecidos à própria sina. Será que Deus os deu esse destino?

São muitas as interrogações! Talvez nunca tenha respostas para as mesmas. Se há um oásis para esses “silvas” são as rodoviárias. Novamente as interrogações surgem em minha cabeça, o que os levam a procurar refúgio nesses ambientes fétidos, cheios de vai e vem? Ouso em tentar responder-me ou dar-me o direito de não deixar tantos questionamentos abertos. Penso que por ser um ambiente movimentado durante as vinte e quatro horas do dia, esses pobres diabos, sentados sobre cadeiras duras, deitados no chão, quase pisoteados, mesmo sendo ignorados por quase todos os transeuntes ainda guardam consigo a esperança de sentir calor humano, receber um olhar, mesmo que seja de pena ou repulsa.

Observo agora mesmo, dentre alguns sem sorte, um senhor idoso, que por diversas vezes tenta se acomodar na cadeira dura, sem sucesso, se levanta a todo o momento. Tosse com força. Novamente as interrogações pululam em minha cabeça: Será que sempre fora mendigo? Imagino-o, ainda criança, pedindo nas ruas, pivete, engraxando sapatos, adulto já, sem nenhuma expectativa de evolução, dormindo nas calçadas.

Será que o ambiente que me convida a todas essas reflexões? Sei, não sou hipócrita, que já vi andarilhos em vários outros lugares. O tempo, as circunstâncias e a minha espera na rodoviária fez-me voltar com um olhar comovente para esse público. Meu desconforto logo acabará, viajarei algumas horas no sacolejo do ônibus, mas logo estarei em casa, tomarei banho, deitarei em minha cama confortável. Pergunto-me (é só o que posso fazer) se esquecerei do mendigo da rodoviária, se na noite seguinte ele ainda estará no mesmo lugar, se esse herói do descaso sobreviverá quanto tempo mais.

Questiono-me...