DESPREZO! Existir sem Zelo!
Fui visitar um quarto da minha casa
Que estava escuro e desarrumado
Havia móveis quebrados
Janelas rachadas
Não havia fechadura na porta
Que rangia como uma gralha
Que repetia
Desprêzo! Desprêzo!
Percebi que esse quarto
Era o viver sem zelo
Existir sem zelo!
Nesse quarto havia uma empregada
Uma velhinha desdentada
Que vestia trapos e dava risadas
Que constantemente me lembrava
Da bagunça que eu tinha dentro de mim
Por fora - bela viola
Por dentro...
Quanto desprezo!
Desprezo! Desprezo!
Existir sem zelo!
Existir sem zelo
É sair de casa com a calça rasgada
É celular com vidro quebrado
É a louça suja com restos de comida
Que chama baratas e ratos
É maltrato com as pessoas amadas
É ser mendigo de si mesmo
É gritar com a velha empregada
E ouvir da velhinha:
Desprêzo! Desprêzo!
Existir sem zelo!
Existir sem zelo
É abraçarmos as nossas sombras
Além da conta
É ficarmos com medo
Do próprio medo
É a casa mal-assombrada
De tão desarrumada
É tudo aquilo que despejamos na privada
Que deveríamos manter coeso
É colocarmos a culpa na empregada
Que foi contratada para lidar com o nosso:
Desprêzo! Desprêzo!
Existir sem zelo!
Ao terminar essa jornada
Percebi que esse quarto da minha casa
Precisava ser arrumado
Por mim mesmo
Com a tinta fresca do cuidado
Com a vassoura do discernimento
Com a sabão da disciplina
E o zelar de entendimento
Dai, fui limpando devagarinho
É percebi que a empregada
Que dava risada
Do meu " evoluindo"
Era uma velhinha que muito me conhecia
Desde o tempo antes do nascimento
E eu só fui entender o porquê
Quando voltei dessa viagem
E eu fui perceber
Que a velhinha era Nanã Buroquê
Que agora dizia:
Zêlo! Zêlo!
Cuida do que eu te dei
Direito!