Duas Décadas
-20 anos, ele disse.
20 anos de labuta e de que sofrera. Dos tempos em que ouvia a quase todo momento gritos, talvez até injurias. Nunca o vi chorar, apesar de saber que ele não era de ferro, mesmo sabendo que tudo aquilo era passageiro.
Sem ele saber, eu o entendia, mas queria só ouvir o desabafo dele, o transbordar, o desvanecer, não queria o encher. Tinha planos, sonhos, que aos poucos foi se esvaindo, mas ele ainda tinha alguns resíduos e acreditava neles, não que esses 20 anos fossem algo ruim, não, pelo contrário, pelo ao menos o que eu pude ver é que ele era feliz, mas ainda assim se sentia sozinho, eu podia sentir aquilo.
Por que tão só menino? Olhe ao seu redor, olhe através do seu mundo, veja o que há de bom e mergulhe nele, se sinta infinito, talvez em suas palavras, nas suas letras, no seu som, no seu céu, sendo ele azul ou nublado, seja um pôr-do-sol, um anoitecer, se sinta como a natureza do seu mundo, sim,um mundo só seu.
Um mundo em que possa fugir dessa pequena parte dos seus 20 anos, dessa parte que vem de vez em quando e te atormenta. Deixa se esvair, sumir, evaporar.