ELE

A roupa lhe apertava, mas não era só o tecido menor que seu corpo. Apertava-lhe a alma. Olhava de manhã no espelho e refletia sobre como havia chegado àquele momento: o que ELE fizera, quais desacertos tinha tomado ao longo da vida. Suspirava cansado e tomava o café e ia para o trabalho, metodicamente pelo mesmo caminho e com o tempo contado, como fazia anos à fio.

Não era solitário, mas só ELE vivia. Não tinha namoradas, não era feio, tinha papo, era medo, de não ser suficientemente amado, mas queria a todo custo buscar sua felicidade.

Todo dia andava as ruas, buscando algo que não sabia. Todo dia inalava perfumes de uma vida que nunca tivera. Ah! já havia deixado há tempos a tristeza e só tinha agora indiferença. E olhava-se no espelho, e refletia e a roupa apertava-lhe a alma.

Até que um dia ele pensou: "vou mudar de caminho, vou em busca de um amor!" Descabido ELE. Como, haveria de ter tão drástica mudança em vida? E caminhou por um novo caminho. Bonito não era, mas era novo. Sentou em um banco de uma praça qualquer, afrouxou a gravata e olhou a rua. Estava atrasado para o trabalho, mas e daí? Viu pássaros, carros, todos os mesmos. mas Deus! Era como redescobrir o mundo, o vermelho das rosas, o azul do céu.

Viu uma moça, vindo em sua direção. Cabelos soltos, andar tímido. ELE viu flores em suas mãos. Foi analisando aquela moça, não com desejo, mas como se descobrisse um ser novo. E ela passou e uma flor caiu. ELE a pegou e num instante tocou seu braço. Ela sorriu e, antes de pegar a flor ajeitou os cabelos, como um gesto singelo de inocência e lhe olhou.

Ela pegou a flor, ELE sorriu, se apresentaram e seguiram conversando. Naquele dia ELE se apaixonou.

Dom Torres
Enviado por Dom Torres em 06/06/2016
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