AMORAS TEMPORÃS


(Diário de minhas andanças)
Depois de uma manhã gelada,uma tarde por igual, nada melhor que uma boa e merecida "lagarteada".
(Se houvesse sol por estas bandas,é claro!)
Em tempos de menino, nas férias de julho, uma das coisas que mais gostava quando geava pela manhã, era esperar aquele sol brilhando pela tarde para atirar-me, literalmente, sobre o feno seco no quintal de casa e ficar lagarteando.
Espiando preguiçoso, o céu límpido, anilado , a copa do arvoredo despida de folhas,a fumaça na chaminé dando recados de quitutes de vó Maria.
[Por vezes,amoras temporãs atiçavam-me]
Ao meu redor, uma boa quantidade de mimosas colhidas no pé, caqui e , vez e outra, alguns pinhões assados.
O pensamento voava longe! Tão longe quanto os bandos de chupins que cruzavam sem rumo certo.


O apelo aflitivo dos bezerros de tia Flora, respondidos aos berros pelas vacas mães, dava um toque de algo que na verdade eu nem sabia explicar-me.(Percebia, apenas ,tratar-se de algo digamos...melancólico,triste).

[Tão dolentes quanto as modinhas sertanejas fugidias do rádio de dona Avelina,cujo ponteiro sintonizador havia emperrado nas ondas curtas da rádio Aparecida]
Hoje estou meio assim. As mimosas vieram do mercado.Pinhões andam excassos e caquis já não fazem muito a minha cabeça.
Existe feno seco no quintal do vizinho e por aqui, vou "lagarteando"tão somente no feno de minhas divagações.
Os chupins de outrora,perderam-se em revoadas. 

[Outros meninos,outros quintais,necessitam daquelas asas itinerantes]
 Tudo o que sei agora, é desta tarde fria,insensível,nostálgica a mexer com meus baús do tempo.
Vai uma "mimosinha" aí?

                                   Joel Gomes Teixeira