O batismo.
Era uma vez, há muito tempo atrás, uma possibilidade de diálogo.
Chegando às novas terras, um europeu, religioso, um jesuítico, de barba longa e nitidamente cansado dos três meses de viagem no tenebroso oceano, aproximou-se de um nativo destas novas terras e, durante um diálogo, assim lhe perguntou:
- Caríssimo, o amigo tem algum Deus?
- Sim, tenho vários. – respondeu o nativo. Demonstrando surpresa, o jesuíta retrucou.
- Vários! Nossa, que interessante. E o amigo poderia me dizer quais são?
- Sim, posso. Tenho Iara mãe d’água, tenho Tupã, também tenho o Sol e a Lua e um monte de outros deuses que me protegem e me ajudam a viver.
Balançando a cabeça de forma positiva o jesuíta disse:
- Que interessante!
Então o jovem índio achou curioso aquele balançar de cabeça e sentiu que era a sua vez de perguntar.
- E o amigo? Tem deuses?
- Sim, tenho – respondeu o religioso e completou – mas só tenho um.
O índio exclamou assustado.
- Nossa! Como você é pobre de deuses. Quer um emprestado?
- Não preciso, amigo, pois meu deus fez todos os seus deuses.
Espantado, o índio ficou muito curioso e pediu.
- Você pode me falar do seu deus? Quero conhecê-lo.
Dessa forma, durante um tempo, o jovem índio foi introduzido na religião cristã. Aprendeu todas as orações e a liturgia da Igreja. Quanto mais o tempo passava, mais o jovem índio se interessava. E, após muitos ensinamentos e doutrinações, faltava uma única coisa para que o jovem índio passasse a ser um jovem cristão: o batismo.
Foram ao rio próximo à tribo. Lá, o jovem índio foi submergido nas águas e ao emergir ouviu o jesuíta dizer:
- Agora, tu não eis mais aimoré, tupi, tupinambá, tapeba, tapajós, goitacás. Agora, te batizo José.
Emocionado, o novo cristão, José, abre um sorriso bobo no rosto e repete em um tom mais baixo.
- Agora sou José.
Passado um tempo, o jesuíta foi para outras paragens e deixou o jovem cristão José e sua tribo de novos cristãos.
E, como é sabido, no calendário católico existe um período onde os cristãos não consomem carne vermelha. Esse período é conhecido como quaresma, o qual na Semana Santa temos seu ápice. E, como José era um cristão devoto e correto, não pensou duas vezes e foi ao rio mais próximo para pescar. Coitado do jovem José. Passou a tarde toda no rio e não pegou uma piaba. E, ao retornar para a tribo, triste por estar de mãos vazias, ouviu um barulho vindo da mata. Olhou e viu uma capivara. Puxou a flecha, apontou no arco e lançou um tiro certeiro. Correu feliz na direção da presa, mas ao pegá-la nos braços lembrou da data religiosa. Pensou. Correu com a capivara no rio, abaixou ela nas suas águas, levantou-a e disse:
- Agora, tu não é mais capivara, agora te batizo peixe.