Escritor e corretora – parte 1.
- Te mandei o texto. Você viu?
- Vi.
- Corrigiu?
- Ainda não.
- Poxa!
- O que foi?
- Te mandei ontem.
- Sim, vi hoje pela manhã.
- Então já deu tempo de você ler. Já é noite.
- Tenho vida social, sabia?
- Sei, mas a bodega da esquina não conta.
- Não frequento a bodega da esquina. Sou uma lady.
- Certo, e eu sou um príncipe.
- Está mais para um Ogro.
- Sim, vamos parar de bobagens e vai ler meu texto.
- Calma estou ligando o computador. Cheguei agora em casa.
- Tava onde?
- Onde eu estava?
- Sim. Não entendeu?
- Entendi, mas sou corretora. Não gosto do “tava”. Nunca gostei.
- Pessoa, a conversa é informal.
- Eu sei, mas como vou corrigir seu texto, já estava aquecendo.
- Você é implicante. Mas, me diz aí o que achou.
- Estou lendo.
- Hum!
.....
- Pronto. Já li.
- E aí?
- Tá bom.
- Bom? Poxa! Esperava mais.
- Mais o que? Quer que eu te puxe o saco?
- Por ai.
- Convencido.
- Sensato.
- Tá, vai, gostei. Sua escrita é interessante e você leva jeito.
- Já é um elogio: “leva jeito”.
- Gosto da sua narrativa, é envolvente e bem informal.
- Tô gostando, continue.
- Estou.
- Hum?
- “Estou gostando.”
- Deixa os meus vícios de linguagem. Pessoa implicante.
- Força do hábito.
- Hum.
- Dois.
- Implicante. Mas gostei dos teus elogios. Obrigado. Considero muito a sua opinião.
- Não elogiaria se não fosse verdade.
- Sei disso. Mas, me diz outra coisa.
- Diga.
- Você cobra quanto pela correção?
- Depende.
- Depende do que?
- Se for um texto informal ou acadêmico. O rigor muda, o preço muda.
- Entendo.
- Por quê?
- Por nada. Quem sabe um dia te pago.
- Tá bom, faz-me rir.
- Está bom.
- Hãm?
- “Está bom”.
- Abusadinho, hein? Quer corrigir a corretora?
- Eu não, mas não perco a piada.
- Ok!
- Estrangeirismo agora?
- Olha, vou dormir, estou com sono e cansada.
- Beleza. E obrigado pelas observações.
- Por nada.
- Só mais uma coisa.
- Diga.
- Um dia te pago.
- Acredito.