Para Alexandre, Zélias, Andrezinho, Rubens Nélson e Xepinha — amigos da infância e da bola, que conservo até hoje.
Time Mirim do Águas Virtuosas - 1966. Na foto: Andrezinho, Zé Maria, Xepinha, Rubens Nélson e Roberto
Alexandre, Zélias e Guima, do Juvenil do Águas Virtuosas
Crônica
O mais triste dia da vida dos meninos botafoguenses
Tarde do dia 12 de maio de 1965.
No Rio de Janeiro, Botafogo e Fluminense se preparam para uma partida do Torneio Rio-São Paulo (aqui).
Em Aguinhas, Sul de Minas Gerais, no pequeno gramado da pracinha do prédio da antiga prefeitura (onde hoje funciona o fórum), 6 meninos, alunos do Grupo João Bráulio, batiam bola.
Ao fundo, na casa do promotor Dr. Ferreira, apaixonado torcedor do Fluminense, no rádio ligado em volume máximo, Jorge Curi preparava-se para mais um clássico do futebol brasileiro — o Clássico Vovô.
O mais triste dia da vida dos meninos botafoguenses
Tarde do dia 12 de maio de 1965.
No Rio de Janeiro, Botafogo e Fluminense se preparam para uma partida do Torneio Rio-São Paulo (aqui).
Em Aguinhas, Sul de Minas Gerais, no pequeno gramado da pracinha do prédio da antiga prefeitura (onde hoje funciona o fórum), 6 meninos, alunos do Grupo João Bráulio, batiam bola.
Ao fundo, na casa do promotor Dr. Ferreira, apaixonado torcedor do Fluminense, no rádio ligado em volume máximo, Jorge Curi preparava-se para mais um clássico do futebol brasileiro — o Clássico Vovô.
.....................................
— Já dá dois times, vamu jogar! — disse o Guima. — Três do Botafogo e três do Fluminense, tá dividido. Topa?
— Par! — Ímpar! — Ganhei! — disse o Alexandre — Bola é nossa e ocês tira a camisa!
— Já dá dois times, vamu jogar! — disse o Guima. — Três do Botafogo e três do Fluminense, tá dividido. Topa?
— Par! — Ímpar! — Ganhei! — disse o Alexandre — Bola é nossa e ocês tira a camisa!
— Bola só sai na linha de fundo, num vale ficar dentro do gol, canelada é chute direto, dois num é falta, quem isola, busca — um deles anunciou as regras do jogo.
— E num vale bicuda, que a bola ainda nem foi usada — ordenou Andrezinho, o dono da bola de capotão número 3, estralando de nova.
De quatro metades de tijolos montaram as traves. No esquadrão alvinegro, alinharam-se Guima, Xepinha e Rubens Nélson. No tricolor, Alexandre, Zélias e Andrezinho. Guima e Alexandre, zagueiros; Rubens Nélson e Zélias, no meio; Xepinha e Andrezinho, no ataque.
E dois jogos inesquecíveis começaram ao mesmo tempo...
— É goool! Gooooollllll! Jaiiiirziiinhooo, camisa número 7! Eram decorridos 6 minutos da etapa inicial! — esgoela Jorge Curi, para alegria do trio botafoguense. Inspirado, Xepinha recebe lançamento de Rubens Nélson e, a la Jairzinho, dribla dois e anota o primeiro gol.
E jogo que segue, lá e cá...
Durou, no entanto, pouco mais de meia a hora a alegria dos botafoguenses. Em menos de 7 minutos escutaram, por três vezes, bordões inconfundíveis do locutor caxambuense, anunciando a virada tricolor, que marcou, sucessivamente, com Evaldo, Antunes e Amoroso:
— Golaço! Açoo! Açooo!!!
— Dá-lhe garoto!
— Anootem!... Teempo e plaacar no Maior do Mundo! São decorridos 42 minutos da etapa inicial. Fluminense 3, Botafogo 1!
— Ééé, mas aqui tá 3 a 1 pra nóis, num dianta chorar — falou Guima tentando abafar a gozação dos tricolores.
— Pois nóis vai virar no segundo tempo! afirmaram confiantes Rubens Nélson e Xepinha. — Jairzinho e Roberto vão fazê 4 gol!
— Sou tricolor de coração ! Sou do time tantas vezes campeão! — prosseguiu zombeteira a torcidinha mirim do Fluminense, sem dar ouvidos às bravatas alvinegras.
Veio o segundo tempo e Antunes, Gílson Nunes e novamente Evaldo selaram a sorte do Botafogo: 6 x 1 Fluminense!
— É goleada! É goleada!
— Aqui tamém é goleada, seus bobo! Tá 5 a 1 pro Bota, hehe!
— Pelada na pracinha num vale goleada no Maracanããã!!!... — devolveu a equipe tricolor.
De repente, no rádio:
— É penalti para o Fogo! Penalti!!! — Jorge Curi anuncia.
Expectativa na pracinha.
— Correu, atirou. É gol! Gooolll!!! Gérson, camisa número 10. Eram decorridos 33 minutos de luta na etapa final! Agora, noo placaarrr: Fluminense 6, Botafogo 2!
— Falta 15, ainda dá pra empatar! — Xepinha falou, sem muita convicção.
— Esperança é a última que morre! — Guima tentou animar o trio alvinegro.
— Navio já afundou! Navio já afundou! Num adianta chororô! — Os tricolores, dando pulinhos de contentamento, devolveram no ato.
Mas logo se calaram, pois Xepinha, magoado e de cara feia, meteu a bola no vão das pernas de quantos adversários viu pela frente e assinalou, inapelavelmente, no improvisado maracanã de Aguinhas: Botafogo 7, Fluminense 1.
Mas o sofrimento não havia acabado: aos 35 minutos do segundo tempo Gílson Nunes deu números finais ao que se tornaria o mais triste dia da vida dos meninos botafoguenses: FLUMINENSE 7, BOTAFOGO 2!
E, para cúmulo do azar, Andrezinho marca um gol...
E, assim, no Sul de Minas, em Aguinhas, o jogo também terminava: BOTAFOGO 7, FLUMINENSE 2!...
.....................................
— A revanche será no jogo de botão, na sala de tacos da casa do Guima — avisou Alexandre, mordido pela derrota, mas mostrando sete com os dedos para os amigos botafoguenses...
— E num vale bicuda, que a bola ainda nem foi usada — ordenou Andrezinho, o dono da bola de capotão número 3, estralando de nova.
De quatro metades de tijolos montaram as traves. No esquadrão alvinegro, alinharam-se Guima, Xepinha e Rubens Nélson. No tricolor, Alexandre, Zélias e Andrezinho. Guima e Alexandre, zagueiros; Rubens Nélson e Zélias, no meio; Xepinha e Andrezinho, no ataque.
E dois jogos inesquecíveis começaram ao mesmo tempo...
— É goool! Gooooollllll! Jaiiiirziiinhooo, camisa número 7! Eram decorridos 6 minutos da etapa inicial! — esgoela Jorge Curi, para alegria do trio botafoguense. Inspirado, Xepinha recebe lançamento de Rubens Nélson e, a la Jairzinho, dribla dois e anota o primeiro gol.
E jogo que segue, lá e cá...
Durou, no entanto, pouco mais de meia a hora a alegria dos botafoguenses. Em menos de 7 minutos escutaram, por três vezes, bordões inconfundíveis do locutor caxambuense, anunciando a virada tricolor, que marcou, sucessivamente, com Evaldo, Antunes e Amoroso:
— Golaço! Açoo! Açooo!!!
— Dá-lhe garoto!
— Anootem!... Teempo e plaacar no Maior do Mundo! São decorridos 42 minutos da etapa inicial. Fluminense 3, Botafogo 1!
— Ééé, mas aqui tá 3 a 1 pra nóis, num dianta chorar — falou Guima tentando abafar a gozação dos tricolores.
— Pois nóis vai virar no segundo tempo! afirmaram confiantes Rubens Nélson e Xepinha. — Jairzinho e Roberto vão fazê 4 gol!
— Sou tricolor de coração ! Sou do time tantas vezes campeão! — prosseguiu zombeteira a torcidinha mirim do Fluminense, sem dar ouvidos às bravatas alvinegras.
Veio o segundo tempo e Antunes, Gílson Nunes e novamente Evaldo selaram a sorte do Botafogo: 6 x 1 Fluminense!
— É goleada! É goleada!
— Aqui tamém é goleada, seus bobo! Tá 5 a 1 pro Bota, hehe!
— Pelada na pracinha num vale goleada no Maracanããã!!!... — devolveu a equipe tricolor.
De repente, no rádio:
— É penalti para o Fogo! Penalti!!! — Jorge Curi anuncia.
Expectativa na pracinha.
— Correu, atirou. É gol! Gooolll!!! Gérson, camisa número 10. Eram decorridos 33 minutos de luta na etapa final! Agora, noo placaarrr: Fluminense 6, Botafogo 2!
— Falta 15, ainda dá pra empatar! — Xepinha falou, sem muita convicção.
— Esperança é a última que morre! — Guima tentou animar o trio alvinegro.
— Navio já afundou! Navio já afundou! Num adianta chororô! — Os tricolores, dando pulinhos de contentamento, devolveram no ato.
Mas logo se calaram, pois Xepinha, magoado e de cara feia, meteu a bola no vão das pernas de quantos adversários viu pela frente e assinalou, inapelavelmente, no improvisado maracanã de Aguinhas: Botafogo 7, Fluminense 1.
Mas o sofrimento não havia acabado: aos 35 minutos do segundo tempo Gílson Nunes deu números finais ao que se tornaria o mais triste dia da vida dos meninos botafoguenses: FLUMINENSE 7, BOTAFOGO 2!
E, para cúmulo do azar, Andrezinho marca um gol...
E, assim, no Sul de Minas, em Aguinhas, o jogo também terminava: BOTAFOGO 7, FLUMINENSE 2!...
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— A revanche será no jogo de botão, na sala de tacos da casa do Guima — avisou Alexandre, mordido pela derrota, mas mostrando sete com os dedos para os amigos botafoguenses...
Os times do Botafogo e Fluminense de 1965
Botafogo de 1965. Em pé: Mura, Zé Carlos, Afonsinho, Manga, Rildo e Dimas. Agachados: Roberto, Gerson, Sicupira, Jairzinho e Artur. (Reprodução: www.literaturanaarquibancada.com)
Reprodução: www.soumaisflu.com.br
Jorge Curi
Jorge Curi (Caxambu, 25 de fevereiro de 1920 – 23 de dezembro de 1985) foi radialista e locutor esportivo brasileiro. Filho do comerciante José Kalil Curi e de Maria Curi, teve oito irmãos, entre os quais, o cantor, compositor e humorista Ivon Curi e o também radialista Alberto Curi.
Iniciou sua carreira numa emissora local de sua cidade natal, Caxambu, em 1942. No ano seguinte, teve a chance de fazer um teste para a Rádio Nacional, onde, aprovado, permaneceu até 1972, quando se transferiu para a Rádio Globo.
Foi um dos maiores locutores de seu tempo, ao lado de Oduvaldo Cozzi, Waldir Amaral e Doalcey Bueno de Camargo. Além de locutor esportivo, também conduziu o programa dominical de calouros A Hora do Pato.
Narrou nove copas do mundo e era torcedor fanático do Clube de Regatas do Flamengo.
Morreu vitima de acidente automobilístico próximo a Caxambu, para onde se dirigia para os festejos de Natal e de Ano Novo. Pouco antes, havia se transferido para a Rádio Tupi. (Fonte: Wikipedia)
Botafogo de 1965. Em pé: Mura, Zé Carlos, Afonsinho, Manga, Rildo e Dimas. Agachados: Roberto, Gerson, Sicupira, Jairzinho e Artur. (Reprodução: www.literaturanaarquibancada.com)
Reprodução: www.soumaisflu.com.br
Jorge Curi
Jorge Curi (Caxambu, 25 de fevereiro de 1920 – 23 de dezembro de 1985) foi radialista e locutor esportivo brasileiro. Filho do comerciante José Kalil Curi e de Maria Curi, teve oito irmãos, entre os quais, o cantor, compositor e humorista Ivon Curi e o também radialista Alberto Curi.
Iniciou sua carreira numa emissora local de sua cidade natal, Caxambu, em 1942. No ano seguinte, teve a chance de fazer um teste para a Rádio Nacional, onde, aprovado, permaneceu até 1972, quando se transferiu para a Rádio Globo.
Foi um dos maiores locutores de seu tempo, ao lado de Oduvaldo Cozzi, Waldir Amaral e Doalcey Bueno de Camargo. Além de locutor esportivo, também conduziu o programa dominical de calouros A Hora do Pato.
Narrou nove copas do mundo e era torcedor fanático do Clube de Regatas do Flamengo.
Morreu vitima de acidente automobilístico próximo a Caxambu, para onde se dirigia para os festejos de Natal e de Ano Novo. Pouco antes, havia se transferido para a Rádio Tupi. (Fonte: Wikipedia)
- http://www.panoramatricolor.com.br
- http://futpedia.globo.com/
- www.literaturanaarquibancada.com
- www.soumaisflu.com.br
- http://radios.ebc.com.br
- wikipedia