COMUNICO QUE VOCÊ VAI MORRER
Sinto informar, mas todos nós estamos condenados à morte. Para alguns será agora mesmo, para outros pode demorar um pouquinho ou um pocão, mas que virá, virá. Dá até para fingir que está mais longe, colocando algumas coisas na cara, pintando o cabelo, indo malhar na academia, deixando de comer e beber algumas coisas tão gostosas. Mais cedo ou mais tarde a morte vai bater na nossa porta e de nada vai adiantar dizer que não tem ninguém em casa. A gente pode ser tão poderoso quando o Obama ou tão insignificante quanto aquele zé-ninguém que você acha não vale um vintém qualquer. Às vezes penso que todas as 7 bilhões de pessoas e 200 milhões de pessoas (e todos os bichos também) que estão pisando o planeta neste exato momento vão morrer quando menos esperam. Alguns de morte-morrida, outros de morte-matada, outros de morte-doença, outros de morte-acidente. Eu vou morrer algum dia e isso me incomoda e assusta pacas. Porque apesar de ser um fato com o qual não dá para negociar nem protelar demais, confesso que no fundo, lá no fundo, acho que só eu vou sobrar. Vão meus pais, filhos, amigos, inimigos, conhecidos, desconhecidos, enfim, vai toda galera e eu ficarei para contar história. Vou poder estar bem velhinho, caindo aos pedaços, mas sobreviverei bravamente à tudo e a todos. Não sei que graça teria ficar sozinho nos 510 milhões de quilômetros da Terra, mas não vou entregar os pontos assim, simplesmente morrendo como você. Imagine a alegria de entrar no Carrefour e poder pegar o que quiser da prateleira, sem tem nenhum segurança de olho. Imagine poder entrar naquela loja de carros, pegar uma BMW novinha e sair cantando pneus pelas ruas. Imagine poder entrar no gabinete do presidente de plantão do país e rabiscar na sua mesa, colocar os pés na mesa e ficar lá o tempo que bem quiser. Imagine poder andar pelas ruas de olhos fechados sem medo de ser atropelado. Imagine a alegria de não ter ninguém ligando pra mim pedindo para ajudar aquela instituição de que nunca ouvi falar. Poderia dormir até a hora que quisesse e quando batesse aquela fominha, era só ir para cozinha do primeiro restaurante que encontrasse pela frente, abrir sua dispensa ou freezer e preparar uma omelete, um arrozinho, fritar um bife, o que bem entendesse. Se desse sono, era só entrar no hotel da esquina e escolher qualquer quarto e me esparramar na cama até quando bem quisesse. Que delícia seria. Se batesse a saudade de alguém querido ou daquele bicho que abanava o rabo para mim sempre que eu chegava em casa, aí a coisa pega. Poderia até tomar um porre para esquecer sua voz, seu olhar, seu latido de felicidade por estar me revendo (afinal teria todos os bares e botecos do mundo à minha disposição), mas quando este porre passaria, viria aquela insuportável sensação de tédio e a mais absoluta solidão. Isso iria tomar conta de mim com tal pujança que daria vontade de morrer. Mas como era fui presenteado com aquela imortalidade vitalícia, não daria jeito de bater com as botas de vez. E lá iria de novo usufruir de todo este mundão de meu Deus à minha disposição, aproveitando todos os privilégios de poder fazer o que bem entendesse que ninguém iria reclamar. Que cara de sorte eu seria, não?
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