POR ALGUNS MINUTOS, APENAS...
Rodrigo, jovem médico psiquiatra, morava numa cidade média, tinha um consultório particular e atendia também em alguns hospitais. Ele tinha uma casa de veraneio, feita com esmero, espaçosa, confortável e avarandada, fora do perímetro urbano da cidade. Era sexta-feira e ele tinha algo a fazer antes de buscar seus pais no fim da tarde do mesmo dia. Resolvido os afazeres, deitou numa rede para descansar um pouco, mas estava inquieto e seus pensamentos estavam revoltos, alguma coisa não estava bem, pensou ele. Saiu para caminhar pelo campo gramado, a perder de vista que rodeava sua residência e a pouca distância dali encontrou um bilhete escrito a mão com uma bela caligrafia em papel de carta, enfeitado nos cantos com flores e logo pensou é letra de mulher Pegou o bilhete, com poucas palavras escritas que dizia:
—A casinha da gruta do meu tempo de infância, que me viu nascer, logo ela vai me ver... Rodrigo, ficou intrigado e ao longe viu umas árvores encopadas e ele se lembrou que já tinha passado de carro por aquele lugar e que realmente havia um riacho e às margens havia uma mata ciliar. Dirigiu-se, rapidamente a passos largos, até a mata por um trilho e logo avistou uma cabana em ruínas e ao lado uma gruta, que parecia uma sala de estar, não muito funda e lajeada aos lados dando a impressão de bancos, com algumas plantas daninhas no seu interior. No fundo da caverna era meio escuro havia uma linda jovem com um semblante pálido e um olhar parado, com um vidro de barbitúrico na mão, nem notou a chegada do médico, que logo percebeu as intenções de suicídio da moça e rapidamente tirou o vidro dela. Embora sendo medicamento, em doses maiores causa a morte. Sentou-se ao lado dela e lhe perguntou:
— O que você faz aqui com esse remédio? Ela com uma voz frágil e trêmula, entrecortada, balbuciou:
— Eu estou muito triste, para mim nada dá certo eu só penso em morrer, eu quero morrer. O médico percebeu que a jovem estava totalmente desatinada, a acalmou, com palavras bondosas e de consolo, pegando um copo da bolsa da jovem, foi até uma mina de água cristalina próxima, encheu-o e ofereceu a ela que, com hesitação bebeu, apenas alguns goles. Mais calma e com um semblante melhor, Rodrigo a convidou para ir até a sua casa e, em seguida levou, com seu carro até um hospital, providenciou a internação da moça para fazer uma bateria de exames iniciar um tratamento psicológico ou psiquiátrico, dependendo do resultado dos referidos exames. Ele descobriu que ela tinha mãe, mas morava sozinha pois não combinava com ela. Fez um longo período de terapia com melhora bem lenta, até ser totalmente curada. Rodrigo descobriu que ela sofria de conflitos psíquicos internos, de forma autopunitiva, que não tinha amigos, que tinha saído da faculdade sem terminar o curso, que não frequentava a vida social da cidade.
A moça, com a ajuda do Dr. Rodrigo que a acompanhava sempre, apresentando amigos e a introduzindo na sociedade ela se tornou jovial, alegre e feliz e voltou a frequentar a casa da mãe, tornando-se boas amigas e voltou à faculdade para continuar o curso de enfermagem que ela não tinha terminado.
O doutor Rodrigo que era jovem e solteiro e a moça que se chamava Selma, também solteira, começaram um relacionamento sério, logo se casaram na matriz da cidade, toda enfeitada, ela trajando um vestido branco tradicional, tornou-se um linda noiva, com uma luxuosa cerimônia, a mais bela da cidade, com participação de grande número de convidados, pois o médico atendia a seus clientes com presteza, amor e carinho e frequentava vários clubes, era muito conhecido e estimado na localidade e na região.
Por alguns minutos, apenas, ela não seria salva.