JORGE "Coragem" LAFOND
JORGE "Coragem" LAFOND
"Gaudeamus, igitur,
juvenes dum sumus.
Post fecundam juventutem,
post molestam senectutem,
nos habebit humus".
(trecho de extensa canção latina,
muito antiga, com 14 estrofes.)
"A melhor palavra, a meu ver, para
definir o JORGE LAFOND é coragem!"
ator CARLOS CONKA (comediante do
SBT) na TV RECORD, em 30/maio 2016.
Num dia qualquer partiremos todos, ninguém ficará para semente... segundo a canção latina GAUDEAMUS IGITUR "a nossa Vida é breve", por isso: "Alegremo-nos agora, / enquanto somos jovens. / Depois de uma juventude fecunda, / após uma velhice doentia, / nos tornamos pó!" Em uma reportagem inesquecível, num momento marcante para a televisão nacional, o programa "Domingo Show" da TV RECORD relembrou a figura e a carreira de "Vera Verão", aliás, do comediante e dançarino "Jorge Lafond", ou melhor, de JORGE LUÍS SOUZA LIMA, seu nome real.
Juro que não sabia que êle participou dos "Trapalhões", num "esquete" do pelotão comandado pelo "Sargento Pincel". "Era a ovelha negra da família", segundo seu "tio" na comédia, o recruta "Mussum".
Em plenos anos 70, com a discriminação contra homossexuais (e negros)consentida e liberada, Jorge Lafond "deu a cara à tapa", enfrentou do alto de seus 1,96 cm as "patrulhas" histéricas e hipócritas e EXPLODIU as convenções da época (na TV e em sua vida pessoal), assumindo sua opção sexual e a preferência por roupas femininas -- sem a discrição de uma "Rogéria" -- afirmando aos berros "que era uma quase Mulher" e que "bicha" era o "raio que o parta"! Lafond teve a simpatia do povo simples pela CORAGEM que demonstrou de VIVER SUA VIDA, ainda que doesse a quem se sentisse incomodado.
O sonoro "EPA"! tornou-se o "bordão" inconsciente dos espezinhados, dos perseguidos, dos discriminados, dos negros e gays e dos negros gays, uma AFRONTA à Sociedade civilizada (?!) daqueles anos. Mais do que qualquer outro, Lafond carregou sozinho essa bandeira, os que tinham peso e importância na época (Denner, Clóvis Bornay e seu eterno "rival" Evandro de Castro Lima, Clodovil, entre outros) "camuflavam-se" no seio do "high society" deixando "na arena", entre hienas e leões, esse "Deus de Ébano", essa "Rainha Nzinga", o primeiro HOMEM a desfilar no Carnaval como Destaque feminino, enfrentando a ira de meia São Paulo.
CORAGEM foi o o combustível que sustentou a vida e a carreira de Jorge Lafond! Meu irmão o conheceu num grande evento cultural na Cinelândia, por volta de 1980/81, organizado pelo produtor Renato Branco... Lafond treinava, num teatro próximo, para o show, horas depois.
Terei eu conhecido Jorge Lafond?! É bem possível... por volta de 1973/74 eu trabalhava na superloja MESBLA Rio Sul, em Botafogo, como segurança e evitava muito contato com os demais funcionários, pois nosso dever era revistá-los, ao fim do expediente, suas bolsas e marmitas. Entre as 60 ou 80 pessoas estava um jovem negro de uns 16 / 17 anos, cabelo duro bem baixo, com o tipo físico do futuro Lafond, embora sem a sua altura.
Ao ver Lafond na TV sempre me vinha a imagem desse menino, até que... fotos raras feitas meses antes de sua morte e só exibidas ontem, no programa do Geraldo Luís, me tiraram as poucas dúvidas. Resta aos amigos desse artista sem igual na TV brasileira, estrela solitária e ÚNICA, me confirmar se êle teria mesmo trabalhado na infelizmente extinta MESBLA.
PARABÉNS à TV Record por nos presentear com esse raro instante de ARTE, de prazer e de saudade!
"NATO" AZEVEDO (escritor e compositor) 30/maio 2016