ARTIMANHAS DO OFICIO
Um velho ricaço adorava pescarias e sempre viajava para as praias nordestinas, onde alugava um barco e partia para o alto mar, em busca dos melhores pesqueiros, orientado pelo barqueiro, gente do lugar e conhecedora dos segredos daquele mundão d’agua.
Certa feita saiu no barco de um garoto dos seus quinze anos, o Nhô Tico, cabra esperto e decidido, que o levou lá para a Ponta do Seixas, no Cabo Branco, em João Pessoa, na velha e boa Paraíba.
Atirou seu anzol pelo molinete e puxou prosa com o Nhô Tico, enquanto aguardava os beliscões dos peixes:-
“- Menino, você tem algum ofício?” – indagou o velho pescador.
“- Ofício? Mas que diabo é isso, meu sinhô?...” – perguntou o barqueiro mirim.
“- É profissão. Você tem alguma profissão?” – insistiu o velho.
“- Ah, eu trago gente aqui e acolá pra pescar, num sabe?” – respondeu o garoto.
“- Só isso? Você perdeu metade da sua vida assim, tá sabendo?” – sapecou o pescador.
Daí a pouco o tempo ficou fechado, nuvens escuras anunciando tempestade braba e o barco começou a jogar sob o balanço das ondas. Foi a vez de o garoto perguntar ao velho:-
“- Doutor, o senhor sabe nadar? ...”
“- Não, eu não sei, por quê?...” – respondeu-lhe o velho.
“- Porque eu sei, tou indo embora e acho que o senhor vai perder sua vida inteira!...” – fuzilou o pequeno barqueiro.
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B.Hte., 29/05/16